Vou partir e vou ter com meu pai.
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Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa».
EVANGELHO ( Lc 15, 1-10 )
Há vários anos, uma mãe idosa veio falar comigo e logo começou a derramar lágrimas abundantes com uma angústia sufocante. O que tinha acontecido? Tinha três filhos. Dois deles tinham emigrado para a América. A vida tinha-lhes corrido bem e estavam abundantemente ricos para os padrões locais. O irmão que tinha ficado em Portugal era doente tinha muitas limitações de saúde apesar de ser um rapaz trabalhador. Um dia ele precisou de ajuda urgente e a mãe achou que era justo ajudá-lo mais do que os outros que não precisavam. Eles souberam da ajuda ao seu irmão e ficaram tão irritados com a mãe que vieram a Portugal e nem a foram ver. Era a razão das suas lágrimas juntamente com a dúvida se tinha sido justa.
Lembro-me de ter dito à mãe: – percebo que esteja triste por não ver os seus filhos, mas o que fez não foi nenhuma injustiça para com os seus filhos da América. Eles têm a riqueza de ter o seu afeto e terão a sua herança quando você lha deixar. Se do seu dinheiro quis ajudar o filho que mais precisa, agiu com um coração de mãe, semelhante ao coração de Deus que se inclina para os pobres. Se eles não entenderam o seu gesto de mãe é porque têm o coração endurecido como o filho mais velho da parábola do chamado filho pródigo.
Às vezes a abundância de dinheiro torna-nos insensíveis, ambiciosos e orgulhosos, incapazes de ver a dor e o sofrimento alheio como o rico à porta de quem jazia o pobre Lázaro. Mas, mesmo sem dinheiro, podemos ter acerca de nós mesmos uma ideia farisaica em que nos julgamos supra sumo de verdade, de justiça e de bem não nos dando conta de que somos radicalmente pobres criaturas.
Quando nos tornamos incapazes de nos reconhecer pobres e pecadores tornamo-nos incapazes de receber misericórdia. É essa a verdade que se impõe dos textos bíblicos de hoje. A misericórdia de Deus só é oferecida àquele que se reconhece pecador. E a graça a pedirmos é o reconhecimento das nossas fraquezas, dos nossos limites para sermos beneficiários da divina misericórdia. Reconhecer-se bom ou justo, é rejeitar a graça de Deus como os fariseus e os escribas do evangelho hoje escutado: “Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Nós também somos tentados a ter atitudes semelhantes quando temos um olhar de desconsideração e julgamento diante de pessoas que pensam e vivem de uma forma diferente dos nossos padrões morais e culturais. Teremos nós um olhar de compreensão, de proximidade e de amor para com eles?
Estamos a ser atualmente um país de acolhimento de muitos emigrantes que vêm de diversos quadrantes geográficos do planeta. Há aqueles que são muito próximos de nós histórica e culturalmente que é mais fácil acolher, mas há outros que são mais distantes de nós na cultura, na religião e nos valores. Alguns queixam-se de serem olhados com suspeição e quando se trata de arranjarem emprego são preteridos em relação aos outros. Vale a pena que todos nos questionemos. Como costuma ser o meu olhar perante os que são diferentes de mim?
Mais difícil ainda é olharmos com olhar de amor e misericórdia aqueles que desistiram de viver dignamente e que se entregaram aos diversos vícios como o álcool ou a droga, importunam os outros, pedindo dinheiro, usando toda a espécie de mentiras para o conseguirem. Às vezes para ter um olhar diferente sobre eles tenho mesmo de me perguntar: Como é que Jesus faria? Com que olhar os olharia?
Diante da preocupação dos fariseus diante da forma como Jesus acolhe os pecadores e come com eles, Jesus conta as parábolas que mostram que Deus não é somente um Deus dos «justos», mas também dos pecadores. Por isso, faz chover, derrama a neve, faz brilhar o sol, para os bons e os maus, não faz qualquer discriminação. Aliás o pecador é alguém que Deus perdeu e procura reencontrar. É esse o significado das parábolas deste Domingo da ovelha perdida que o pastor procura, da moeda perdida que a mulher busca varrendo a casa, do filho perdido cujo retorno o Pai espera impacientemente.
Há um livro para pais de adolescentes que tem por título: «Ama-me quando menos mereço porque é quando mais preciso.» É assim que Deus faz connosco.
S. Paulo na segunda leitura enriquece isto com as suas próprias palavras dizendo: “É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, e eu sou o primeiro deles.”
Temos, pois, o verbo salvar; Jesus salva os pecadores. Diz o papa Francisco na Evangelii Gaudium. «Aqueles que se deixam encontrar por Cristo são salvos do pecado, da tristeza e do vazio interior.» Deixar-se salvar é reconhecer que somos pecadores e abrir o coração àquele que nos pode salvar do pecado e do vazio. Mas quem acha que não tem nada a mudar corre o risco de permanecer na sua situação.
Na primeira leitura, Moisés reconhece as fraquezas dos seus compatriotas e implora a misericórdia de Deus que queria exterminar a todos usando a linguagem do Antigo Testamento. O texto termina por dizer que o Senhor renunciou ao mal com que tinha ameaçado o seu povo. Reconheçamos, pois, humildemente as nossas fraquezas e pecados diante de Deus e Ele nos dará sempre a sua abundante misericórdia. Ámen
Perguntas para refletir:
- Quando foi a última vez que fizeste o céu alegrar-se -através do teu honesto e livre exame de consciência e arrependimento?
- Quais destas 3 parábolas te falam mais profundamente hoje? Porquê?
- Estas parábolas são um urgente apelo a ir ao encontro dos que se sentem longe de Deus, para evangelizar e procurar os que estão ou se sentem perdidos através da partilha da nossa história. Como e com quem poderás partilhar a alegria e a liberdade que nasce do perdão e da misericórdia que experimentaste na tua própria vida?
Deixemos que Deus nos diga suavemente:
“Ama-me como tu és, a cada instante e na posição em que te encontras, no fervor ou na secura, na fidelidade ou na infidelidade. Se tu esperas tornar-se, primeiro, perfeito para então começares a me amar, não amarás nunca. Eu só não te permito uma coisa, que não me ames. Ama-me, tal como és. Eu quero o teu coração esfarrapado, o teu olhar indigente, as tuas mãos vazias e pobres. Eu amo-te até ao fundo da tua fraqueza. Eu amo o Amor dos pobres. Eu quero ver crescer, no fundo da tua miséria, o Amor e só o Amor. Se para me amar, tu esperas primeiro ser perfeito, nunca me amarás. Ama-me como és…”