Senhor, tendes sido o nosso refúgio através das gerações.
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Naquele tempo, seguia Jesus uma grande multidão. Jesus voltou-Se e disse-lhes: «Se alguém vem ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo. Quem de vós, desejando construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa, para ver se tem com que terminá-la? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, se mostre incapaz de a concluir e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo: ‘Esse homem começou a edificar, mas não foi capaz de concluir’. E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro a considerar se é capaz de se opor, com dez mil soldados, àquele que vem contra ele com vinte mil? Aliás, enquanto o outro ainda está longe, manda-lhe uma delegação a pedir as condições de paz. Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo».
EVANGELHO ( Lc 14, 25-33 )
Estamos a iniciar o mês de setembro, o mês que dá início ao novo ano pastoral de 2022-2023. Parece que Deus nos envia esta Palavra para iniciarmos o ano pastoral com nova ousadia segundo a sabedoria e a lógica divina e não a lógica humana. Vamos ao texto.
Atrás de Jesus ia uma grande multidão. Sempre que o evangelho diz multidão, fala de pessoas que têm gosto em ouvir Jesus, mas procuram não a exigência de vida, mas as soluções para os problemas imediatos. Jesus não se deixa iludir por aquele grande número de seguidores nem por entusiasmos fáceis. Jesus nunca se interessou muito pelo número, mas pela qualidade da resposta ao seu convite. Às vezes nós deixamo-nos iludir muito pelo número.
De repente, Jesus volta-se para eles e começa a falar-lhes das exigências que comporta o seu seguimento. E fá-lo de modo lúcido e responsável. Não quer que O sigam de qualquer maneira, pois é uma decisão tão vital o ser seu discípulo que isso produz uma mudança de estilo de vida. Quem não reconhece em si nenhuma mudança do estilo de vida por ser discípulo provavelmente é porque ainda não O encontrou e nunca aceitou no fundo do seu coração tornar-se seguidor d’Ele, pois seguir Jesus é ajustar-se cada vez mais ao seu estilo de vida.
Jesus exemplifica algumas dessas exigências começando pelos laços familiares. Jesus sabe bem que a família é importante e faz parte do plano do criador para o homem. Por isso não quer desfazer os laços de afeto e de carinho tão importantes para a nossa saúde afetiva. Mas se alguém põe acima de tudo a honra da família, o património, a herança, o bem-estar familiar, não poderá ser seu discípulo nem trabalhar com ele no projeto de um mundo mais humano. Mais ainda: se alguém só pensa em si mesmo e nas suas coisas, se vive só para desfrutar do seu bem-estar, pois não se engane. Não pode ser discípulo de Jesus. Falta-lhe liberdade interior, coerência e responsabilidade para O levar a sério.
Depois de explicar estas exigências, Jesus conta duas parábolas que parecem contraditórias com a ousadia e loucura da exigência que pede. «Sentar-se» e medir as nossa forças e capacidades antes de empreender o caminho não é um risco demasiado calculado em linha com uma lógica bem humana?
Precisamos de ler bem o texto para percebermos que não é bem isso que Jesus quer dizer, aliás é mesmo o contrário: Como é que depois de ouvir Jesus a contar as parábolas do homem que constrói a torre e do que vai para a guerra? Esperávamos que ele concluísse, a lógica seria:
“Assim, quem de entre vós me quiser seguir tem de se sentar primeiro, fazer bem os cálculos para ver se tem meios e possibilidades de me seguir…” Se assim fosse quem se sentiria preparado para o seguir? Mas não é assim que Ele conclui. Ele diz: “Assim quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo”.
O que Jesus está a dizer-nos é: “Olhai: todos os que se lançam nalgum projeto devem fazer cálculos. Seja para construir uma torre ou para ir para a guerra. Também vós para me seguirdes deveis fazer cálculos. No entanto, os cálculos a fazer para o meu seguimento são de outra ordem. O que me quiser seguir deve renunciar a tudo o que o possa impedir de colocar totalmente ao serviço do Reino as riquezas de toda a ordem, incluindo as afetivas e materiais. E acima de tudo, deve contar com o Poder do Espírito que age poderosamente nos que me seguem e confiam em Mim.
Seguir-me é aprender a pegar na cruz todos os dias, é aprender a renunciar a si mesmo, é dar-se por amor sem medida…Mas é também contar com a Presença de Deus na tua Vida.”
Parar para pensar e fazer o discernimento, é contar com a Presença do Deus do amor que nos chama a segui-lo e nos prometeu estar sempre presente na nossa Vida, é contar que Ele é fiel e pode encher de vida e de amor aqueles que o seguem. Este é que é o risco calculado. Saber à partida que há exigências, mas que todas elas são possíveis porque Ele prometeu estar connosco.
Não é esse o discernimento que fazemos no silêncio da oração, ou num retiro a que vamos? Fazemos cálculos, mas cálculos de amor. Cálculos diferentes do homem que vai para a guerra, pois esse conta só com as suas forças, mas nós contamos com a Sua Presença, com o seu Espírito e por isso o resultado também é diferente porque é baseado numa sabedoria diferente. É esta sabedoria que devemos pedir logo no início do ano para vivermos da lógica de Deus e não dos cálculos demasiado humanos.
Senhor nosso Deus:
Ao iniciarmos este novo ano pastoral
Enchei os que vos servem da vossa sabedoria
Pois «quem poderá conhecer, Senhor, os vossos desígnios
Se Vós não lhes dais a sabedoria
e não lhe enviais o vosso espírito santo?
Saibamos nós pedi-la humildemente
Prostrando-nos diante de Vós em súplica ardente.
Senhor Jesus Cristo que foste tentado pelo demónio
Para seguires a lógica humana do poder, da riqueza e da fama
Mas renunciastes a ela para seguir a sabedoria do pensamento de Deus.
Fazei que, também nós, sempre que somos chamados a uma missão saibamos sentar-nos para fazer cálculos, mas cálculos de amor e de fé que não mede as coisas a partir da sabedoria humana mas a partir do vosso poder e das vossas promessas divinas.
É a vossa presença connosco que nos dá força e coragem e uma imensa alegria no meio de todas as tribulações.
Confiamos-vos este novo ano pastoral que se concluirá com as Jornadas Mundiais da Juventude!
Confiamos-vos os jovens de Portugal e das nossas paróquias.
Possam eles também, ao ser chamados por vós, sentarem-se para fazer cálculos dentro da desmesura do vosso amor.
E nenhum caminho será impossível pois vós sois o Caminho.
Obrigado pela vossa fidelidade!