Folha Paroquial 19.06.2022 — 32º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Folha Paroquial 19.06.2022 — 32º DOMINGO DO TEMPO COMUM

A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.

A folha pode ser descarregada aqui.

EVANGELHO ( Lc 9, 18-24 )
Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Eles responderam: «Uns, dizem que és João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus». Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia». Depois, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».

 

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

“Numa conversa há tempos com alguém que fez todo o percurso catequético e até fez a sua formação num colégio católico dizia-me: «Teremos razão para acreditar em Jesus como Deus? Existem muitas religiões, muitas sabedoras de vida, o que me assegura que Jesus é Aquele em quem devo pôr a minha confiança e segui-lo de todo o coração?»

Não é uma questão fácil pois a fé é uma graça e podemos fazer a escolaridade toda em estabelecimentos católicos e permanecer incólumes ao toque da fé. E pode acontecer o mesmo na catequese das paróquias.

O que pode ajudar a ligar-me à Pessoa de Jesus e a chegar à fé n’Ele?

Há dois aspetos fundamentais a ter em conta: O primeiro é a situação interior da pessoa. Um teólogo muito conhecido escreveu: «Deus não dá olhos para ver nem ouvidos para ouvir a Palavra de Deus enquanto a pessoa não atingir um certo patamar de profundidade da sua existência». A pessoa que não procura, que não se interroga que quer viver a vida à superfície, tentando viver todos os prazeres que a vida lhe pode dar, que tem medo de crescer e quer permanecer eternamente jovem” dificilmente acederá à fé.

Jesus disse que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que a um rico entrar no reino dos céus.

O rico é o que está cheio de si mesmo e confia nas suas riquezas e nos seus tesouros. Enquanto não se encontrar com a sua pobreza e a sua miséria não fará um verdadeiro ato de fé.

Mas depois que a boa atitude de acolhimento da fé existe, é necessária a Palavra de Deus que ilumina os corações.

S. Lucas apresenta-nos dois belos textos sobre como nos tornamos crentes; o primeiro vem no seu evangelho e é o texto dos discípulos de Emaús, e o segundo, vem nos Atos dos Apóstolos e é o da evangelização do etíope, alto funcionário da rainha da Etiópia. O etíope tinha ido a Jerusalém a uma peregrinação e voltava no seu carro lendo uma passagem do profeta Isaías que falava da morte de um justo. O apóstolo Filipe, aproxima-se do carro e pergunta-lhe se ele entende o que vai a ler e ele pergunta como poderá entender o texto se ninguém lhe ensinar. Então Filipe subiu para o carro e a partir daquela passagem falou-lhe da Boa Nova de Jesus. Não nos diz o conteúdo da sua catequese, mas nós sabemos que lhe contou a grande história de Jesus que tem o seu ponto alto na sua morte e ressurreição e envio do Espírito.

É o encontro da sede de verdade do etíope com a água-viva da Palavra de Deus que faz nascer a fé cristã no coração do etíope que pede para ser batizado pois agora acredita que Jesus é o Filho de Deus.

S. João Paulo II dizia que a maneira mais segura e eminente de descobrir Jesus é de partilhar a sua paixão. E é uma resposta semelhante que Jesus dá a Pedro no evangelho de hoje: Como quereis descobrir quem eu sou? Pedro na sua fogosidade habitual responde: «És o Messias de Deus» e Jesus diz-lhe: “Se verdadeiramente queres descobrir quem eu sou, precisas de me contemplar na Paixão, ter contacto com o Cristo crucificado”. E realmente a conversão verdadeira de Pedro só se dá depois dos acontecimentos da paixão.

Muitas vezes interrogo-me se a razão para a vivência de um cristianismo frouxo e morno que resulta na falta de vocações e de coragem para o seguimento de Jesus entre os jovens e os adultos não estará no facto de não propormos suficientemente a linguagem exigente da cruz com medo de que as pessoas não gostem da proposta e se afastem. Assim apresentamos um caminho à medida da compreensão da inteligência humana. Jesus não teve medo de perder o jovem rico quando lhe disse: “Se queres ser perfeito, vai vender tudo o que tens, dá aos pobres e segue-me.» E ele foi-se embora porque tinha muitos bens.

Jesus é bem claro no evangelho que acabámos de ouvir: Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á.

S. Paulo deve ter chegado à conclusão de que uma pregação muito doce não fazia discípulos, por isso confessa: 1Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com o prestígio da linguagem ou da sabedoria, para vos anunciar o mistério de Deus. 2Julguei não dever saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado.” ( 1 Cor 2)

Apresentar o caminho da cruz não tem nada a ver com um certo comprazer-se na dor. Não, a cruz de Jesus não é mortífera. Pelo contrário, dá vida. A experiência mostra que há uma descoberta, uma fonte que brota em nós, logo que entramos em contacto com o crucificado.

Muitos jovens que partem para ações humanitárias em Portugal ou em países mais longínquos para o contacto e a ajuda aos mais pobres encontram aí não só a fé, mas a alegria de viver, pois há qualquer coisa que descobrem na pessoa do crucificado. Descobrem a beleza da cruz no contacto com os mais pobres.

Este é um caminho de evangelização dos jovens para que encontrem a alegria de viver e de se darem.

Há uma grande beleza na cruz, pois é a beleza do amor que salva e dá vida.”

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