O serviço (continuação)

O serviço (continuação)

«Antes de te formar no seio materno, Eu te escolhi.» O Senhor escolheu-nos a todos para o conhecermos, amarmos e servirmos. E o caminho do serviço vivido no amor faz-nos crescer e identificar-nos com Jesus. Paulo diz na carta aos Gálatas: «Fazei-vos servos uns dos outros, por amor».

O Caminho do amor ultrapassa tudo, diz-nos a segunda leitura de hoje. O serviço pode ser uma escola de amor.

Continuando a nossa reflexão sobre o serviço, apresento hoje algumas convicções fruto da observação continuada.

1. O encontro com Cristo e a abertura ao seu Espírito suscitam o desejo e a alegria de servir
Quando termina um percurso Alpha, quando alguém faz uma experiência de Deus num grupo de oração, ou quando alguém participou num retiro marcante do ponto de vista espiritual, vemos que o Senhor desperta naqueles em quem age um desejo de servir com alegria. A experiência do amor de Deus que se dá gratuitamente suscita o desejo de se darem também. E a experiência da fraternidade dá o desejo de contribuir na vida desta nova família. Por exemplo, em Alpha, faz-se além de uma experiência de Deus uma experiência de fraternidade. Quando o Alpha termina a maior parte dos participantes estão abertos a continuarem o seu crescimento servindo.

2. Cada membro da família paroquial é chamado a servir
Os textos da Palavra de Deus e da Escritura lembram constantemente a importância do serviço, mas o contraste entre o que dizem os textos e a vida real das comunidades é enorme. Menos de 20% dos paroquianos de S. José estão comprometidos com um serviço na paróquia. Em S. João Baptista, por vários fatores, a percentagem é quase o dobro, mas, mesmo assim, estamos longe do que seria necessário para ser uma paróquia onde cada um se sente membro do corpo com a sua função. E a culpa não é de ninguém, pois há muita gente na paróquia que quando é convidada aceita servir com alegria. Muitas vezes o que se fez foi convidar pessoas para os serviços que era preciso preencher. Estando preenchidos, já não era preciso mais. Mas é preciso servir não só para preencher as lacunas, mas para que os cristãos cresçam e ponham a render os seus dons. Precisamos de ver o que é que a pessoa pode fazer bem a partir dos dons que tem.

Um exemplo: Um homem dos seus 30 e poucos anos, fez um percurso Alpha e o padre perguntou-lhe o que é que poderia fazer agora para ajudar a comunidade? Ele respondeu: “Eu não tenho jeito para nada. A única coisa que eu sei fazer bem é surf. Já tive uma escola de surf, e adoro fazer surf quase todos os dias”: -“ótimo”, diz o padre, “serás o responsável pela escola surf da paróquia”. -“Mas a paróquia tem alguma escola?”, -perguntou o jovem- “-Tem, a partir de hoje, contigo e com todos os que vierem aprender” Ao fim de um ano, havia muitos adolescentes, jovens e até adultos na escola de surf. O pároco dizia: “A escola de surf traz mais jovens para a Igreja do que todas as outras atividades juntas.” O que precisamos é pensar fora da caixa. A paróquia não tem de fazer só atividades religiosas. Era bom que quem tem jeito para atividades desportivas, musicais, artísticas e outras, as pusesse ao serviço. Há que aproveitar todos os dons para servir a Deus e aos irmãos.

São muito conhecidas algumas paróquias no mundo que conseguiram fazer com que cada membro tivesse um serviço, recebendo mesmo uma carta de missão pastoral e o resultado é visível. Uma paróquia de pedras vivas que cresce dia após dia em fé e caridade e também em membros.

3. O Senhor dá a graça necessária àqueles que chama
Se o nosso papel é discernir os dons das pessoas para lhes confiar serviços e missões em relação com as suas capacidades, constatamos também que o Senhor não chama só as pessoas muito capacitadas, mas que Ele capacita os que chama. Temos visto muita gente desenvolver capacidades insuspeitadas em ligação com o serviço que lhes foi pedido.

4. O serviço é um meio para crescer no sentido de pertença à comunidade
Vemos com frequência que quando confiamos um pequeno serviço a uma pessoa que chegou há relativamente pouco tempo à paróquia, ela ganha um sentido alegre de pertença à comunidade que por vezes outros que já estão há muitos anos não têm porque lhes faltou o serviço. Exemplo: Um rapaz angolano que foi convidado para o grupo de acolhimento à porta da igreja, em S. José, exclamava com alegria: «Agora já me sinto membro desta paróquia».

O sentido de pertença nota-se ainda na partilha financeira para as necessidades da paróquia. Quando as pessoas começam a servir entendem melhor o que é a paróquia, começam a conhecer por dentro o que faz pelo anúncio do Evangelho e pela prática da caridade e tornam-se mais generosas na partilha financeira mensal para a vida da paróquia.

Uma jovem universitária que fez o percurso Alpha jovens, e começou a ler a folha paroquial, ficou de boca aberta com as muitas atividades da paróquia porque pensava que a Igreja só fazia missas, casamentos e funerais. E, agora, quer comprometer-se num serviço na paróquia.
O serviço é por vezes a primeira etapa de um caminho de fé.

5. O serviço é uma ocasião de crescimento humano e espiritual
Quando se pede a uma pessoa para cumprir uma missão segundo os seus dons, o serviço torna-se uma ocasião de crescimento humano e espiritual.
Crescimento humano, pois logo que somos solicitados a partir dos nossos dons, descobrimos novas capacidades que nos fazem crescer.

Há uns anos atrás, o José António era um jovem seminarista português que foi enviado pela Comunidade Emanuel para França. Enquanto seminarista nos fins de semana animava grupos de jovens nas paróquias. Era alegre, bem-disposto, tocava guitarra e cantava. No penúltimo ano de teologia, em França, decidiu sair do seminário e começou a procurar emprego. Concorreu a professor de Religião e Moral no único liceu oficial do Mónaco junto ao palácio do príncipe. Foram vários a concorrer, todos com o curso de teologia já terminado. Depois de verem o seu curriculum em que ele pôs que animava grupos de jovens, tocava guitarra e tinha experiência na pastoral juvenil, disseram-lhe que foi por isso que ele foi escolhido e não tanto pelo curso de teologia que outros também tinham. Como ele disse, depois: “afinal foi o serviço que eu fiz com alegria e amor pela Igreja que me formou para a vida.

Crescimento espiritual, porque o serviço é sempre uma ocasião de sermos confrontados com os desafios que nos ultrapassam. Somos então conduzidos a orar para que o projeto de Deus se realize e fazemos a experiência de que Ele responde à nossas orações. «Então tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo dará» (Jo 15,16)

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