Recomeçamos a formação que deixámos antes do início do Advento: começámos a falar dos 5 essenciais, o chão em que está construído o nosso plano pastoral que convido a ler descarregando-o do site da paróquia, bem como a visão de cada paróquia da UP.
Esses 5 pilares essenciais da formação dos discípulos rumo à santidade são: a oração e sacramentos, a comunidade, a formação, o serviço e a evangelização. Eles são como o ADN da primeira comunidade cristã, e é o mesmo ADN que hoje constrói comunidades saudáveis e dinâmicas.
Reparemos pelo esquema seguinte como se foram formando e crescendo as primeiras comunidades cristãs.
Em primeiro lugar, há o Pentecostes e todos foram cheios do Espírito Santo e entraram no louvor de Deus e na oração. O dom do Espírito, recebido no Pentecostes, permite aos Apóstolos e aos que os escutam ter um encontro pessoal com Jesus Cristo. Sem este encontro, nada acontece.
Depois, este encontro vivo com Cristo transforma as relações interpessoais e daí nasce a fraternidade, a Igreja.
A vida fraterna, vivida na fé, constitui o contexto favorável para receber o ensino dos Apóstolos ( At 2,42) – a formação.
O ensino dos Apóstolos, neste contexto de fé e de vida fraterna, suscita o desejo de servir a comunidade (At 2, 44 e 6,1-5) – partilha de bens, serviço das mesas e instituição dos diáconos.
A comunidade torna-se evangelizadora, anuncia uma boa nova que vive e não pode guardar para si própria.
Assim, as cinco etapas de crescimento dos discípulos na primeira comunidade cristã conectam-se e fazem uma cadeia uns com os outros numa dinâmica espiritual coerente: o que é vivido numa etapa permite passar à etapa seguinte – é um processo cronológico e cumulativo, em que cada etapa conduz à seguinte.
Na última vez, começámos por aquele que habitualmente se apresenta como o último essencial, a evangelização; agora continuamos com o serviço, aquele que, no esquema em cima, aparece a vermelho no canto inferior direito.
O essencial do serviço
«Cada um de vós ponha ao serviço dos outros os dons que recebeu» (1 Pe 4, 10)
Desde o princípio, na comunidade cristã de Jerusalém, os cristãos puseram-se ao serviço uns dos outros. Primeiro, vamos ver a maneira como Jesus viveu o serviço e o transmitiu aos discípulos e como estes o puseram em prática; depois, veremos o que a Igreja diz hoje sobre o assunto e concluiremos com alguns princípios práticos.
(Utilizamos aqui o termo «serviço» para as atividades que dizem respeito à vida interna da comunidade.)
Testemunhos de serviço
Vários padres têm vindo, em momentos diferentes, às nossas paróquias, trazendo paroquianos para verem como pomos em marcha projetos de evangelização como o Alpha, as células, os cursos de casais, a catequese familiar e outros. Um deles manifestou-se muito cético sobre a possibilidade de pôr algum daqueles projetos em prática nas suas paróquias por falta de pessoas com formação para as levar a cabo. Como, do meu lado, tinha convidado alguns paroquianos para testemunharem nesse encontro, todos eles partilharam a sua alegria em ter conhecido o Senhor e a alegria de poderem implicar-se na vida e na missão da paróquia apesar de se sentirem tão pobres. Dando-se conta de que os novos convertidos tinham espontaneamente o desejo de servir e encontravam aí a sua alegria, os visitantes partiram com uma renovada esperança! Afinal talvez fosse possível também lá nas suas paróquias!
A Andreia, que já não tinha nenhuma relação com a Igreja há mais de vinte anos, partilhou o seguinte:
«Em Alpha descobri Jesus, mas através do serviço que me confiaram compreendi que era membro da comunidade» Isto fez-nos refletir sobre o papel integrador do serviço.»
Por estes testemunhos, e muitos outros, demo-nos conta de que o serviço não era somente útil para a comunidade paroquial, mas que tinha um papel importante no caminho espiritual e na construção das pessoas.
Torna-se uma verdadeira conversão pastoral, quando percebermos que todo o cristão é chamado a exercer um serviço na comunidade, e não somente os mais zelosos ou os mais disponíveis. Não chamar alguém para servir é, não só privá-lo de enriquecer a comunidade com o dom do seu serviço, mas, sobretudo, privá-lo da ocasião de crescer na fé e na vida fraterna.
Como é que Jesus viveu o serviço?
Para Jesus, o serviço é uma atitude fundamental. Ele viveu o serviço ao longo de toda a sua vida: «Eu não vim para ser servido mas para servir e dar a vida (Mc 10,45); «Eu sou o bom pastor e o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas» (Jo 10,11); «Eu estou no meio de vós como quem serve» (Lc 22,28), diz Jesus depois de ter lavado os pés aos discípulos depois da sua última Ceia com eles; mesmo depois da ressurreição, continua a servir – quando aparece aos seus discípulos à beira do lago, preparou-lhes uma refeição de peixes grelhados ( Jo 21,1-15).
Vemos também que, na sua atitude de serviço, ele parte sempre da necessidade das pessoas: ao cego de Jericó, Jesus pergunta: «Que queres que faça por ti?».
Jesus ensinou aos discípulos como se colocar ao serviço
Ensinou-os a servir por atos concretos: na multiplicação dos pães e dos peixes, por exemplo, ele diz-lhes para fazerem sentar as pessoas e eles mesmo lhes distribuírem os pães e os peixes.
Depois, ensina-lhes o serviço mútuo – o que não era nada evidente para eles que estavam mais numa perspetiva de saber quem deles era o maior – «Aquele que entre vós quiser ser o maior, faça-se o vosso servo, e o que quiser ser o primeiro, que seja vosso escravo» (Jo 13, 14).
Não somente Jesus chama cada um a servir segundo os dons que recebeu, como lhes transmitiu a parábola dos talentos e disse-lhes ainda que o serviço é uma oportunidade para se encontrarem com Ele mesmo: «O que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos , é a mim que o fazeis».
Como chamar ao serviço nas nossas paróquias?
Como é que os discípulos puseram isto em prática?
Veremos no próximo Domingo.