“Não estás longe do Reino de Deus.”
Esta afirmação de Jesus ao escriba, depois de ter ouvido a sua resposta, mostra que Jesus se deu conta do caminho espiritual que o escriba vinha fazendo, ao ponto de lhe dizer que já não está longe do objetivo que é o reino de Deus.
Na continuação da semana anterior, apresentamos hoje as etapas do caminho que a paróquia propõe para a formação de discípulos. A conversão é um processo e não algo instantâneo. Como é óbvio, o caminho pode ser feito de várias formas. A Igreja sempre formou discípulos e usou outras etapas como o catecumenado da Igreja antiga. Este é o que propomos na paróquia neste tempo que é o nosso.
Queremos fazer, porém, uma ressalva. Cada cada um pode entrar neste caminho a partir da etapa em que se encontra, que só ele pode julgar a partir de alguns dados mais ou menos objetivos.
Ponto de partida
A paróquia deve criar uma cultura de convite.
Para que se torne normal os paroquianos convidarem os seus amigos e conhecidos para um encontro com o Evangelho. Consiste num estado de espírito, numa atitude em relação aos outros, num desejo intenso de partilhar com outros a alegria do Evangelho. Se não houver esta cultura de convite, haverá poucos que experimentarão o encontro pessoal com Cristo, origem de todo o caminho verdadeiro do discípulo. Convidamos, pois, a todos a criarmos essa cultura de convite e, por consequência, de hospitalidade e acolhimento pois, quando convidamos, queremos acolher bem os que convidamos.
E convidamos para quê e para onde?
O nosso desejo é que a pessoa encontre Jesus Cristo e se torne discípulo, mas temos de olhar para o caminho da fé de cada um. A uns, podemos convidar para o princípio, para o Alpha; mas haverá pessoas que poderão não sentir desejo de aceitar esse convite, mas aceitarão melhor um trabalho prático ao serviço dos pobres ou para cantar num coro, ou para dar aulas a emigrantes ou que terão curiosidade pela bíblia e poderão aceitar um convite para um percurso bíblico. Às vezes, poderá ser um convite apenas para um magusto na paróquia, ou uma outra festa. Outros, que já foram praticantes, mas por causa da pandemia deixaram, poderá ser convidá-los a perder o medo e voltar à família e ao seu encontro dominical.
As etapas que propomos, num percurso normal:
1º Alpha: num percurso Alpha os que acolheram o convite de um irmão da comunidade escutam o evangelho como uma novidade, encontram Jesus, fazem a experiência do Espírito Santo e são acolhidos na comunidade cristã.
2º passo: Equipa de liderança Alpha. Após o encontro inicial feito no passo anterior, os participantes são encorajados a juntar-se à equipa organizadora do percurso, onde receberão formação em liderança e serviço. A equipa torna-se assim uma escola de formação de líderes para a comunidade.
3º Passo: Células – enquanto uns são convidados para a equipa Alpha (2º passo) durante 2 a 3 anos, outros são convidados a entrar num pequeno grupo chamado célula paroquial de evangelização para se conectar mais profundamente com outros na comunidade. Além das células, outros podem ainda juntar-se a um percurso de aprofundamento da fé como é o caso do percurso catequético de S. José.
4º Passo: Serviço – como passo seguinte, a paróquia encoraja os participantes a comprometerem-se com a missão ativa na forma de serviço aos outros, segundo os seus dons e talentos. Servir na ação social, na catequese, na organização da comunidade, na liderança de um grupo, na música litúrgica, no trabalho com adolescentes e jovens, num grupo de oração, ou na cadeia de adoração permanente na paróquia. Este compromisso vivido como uma resposta de amor torna-se uma alegria vivificante e não apenas uma participação por sentido do dever.
5º Passo: Formação – a formação do discípulo é permanente. Por isso, em cada ano são oferecidos na paróquia vários percursos que vão de um a três meses, permitindo a todos irem aprofundando a sua identidade de discípulos que querem viver os ensinamentos do Senhor. Percursos sobre a Bíblia, (este ano, S. Lucas), sobre a fé vivida no mundo do trabalho (Deus no trabalho), sobre catequese de adultos para dar uma visão global dos conteúdos da fé cristã, sobre o casamento e a vida em família, etc. O ideal será que cada discípulo participe num percurso de formação por ano.
6º passo: Culto divino. É nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia, que participamos plenamente na vida de cristo. Eles são a fonte da salvação onde nos podemos saciar na alegria. Mas só quando a oração quotidiana e os outros aspetos da vida cristã são vividos plenamente é que a Eucaristia é compreendida e vivida como fonte e cume da vida cristã. Não queremos dizer que só aqui é que se começa a participar na Eucaristia, mas que é depois destes passos que ela se torna o Alpha e o Ómega de toda a vida cristã. Para o discípulo formado, a Eucaristia não é um preceito ou obrigação, mas é a “Nova Jerusalém” para onde corre com alegria e devoção.
Em que etapa nos sentimos?
Olhando para este esquema parece que o Alpha, através do qual se anuncia o querigma ou Primeiro anúncio, é só para os iniciantes, isto é, para aqueles que não são cristãos e estão a dar os primeiros passos. E se tem algo de verdade, é, porém, muito mais do que isso. Diz o Papa Francisco na Evangelii gaudium: “Ao designar-se como «primeiro» este anúncio, não significa que o mesmo se situa no início e que, em seguida, se esquece ou substitui por outros conteúdos que o superam; é o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra, durante a catequese, em todas as suas etapas e momentos.” Por isso o Alpha tem sido tão importante para a renovação da fé daqueles que já eram crentes mas ou nunca viveram a fé com entusiasmo ou então o perderam pelo caminho.