Folha Paroquial nº 185 *Ano IV* 12.09.2021 — DOMINGO XXIV DO TEMPO COMUM

Folha Paroquial nº 185 *Ano IV* 12.09.2021 — DOMINGO XXIV DO TEMPO COMUM

Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor.

A folha pode ser descarregada aqui.

EVANGELHO ( Mc 8, 27-35 )
Naquele tempo, Jesus partiu com os seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe. No caminho, fez-lhes esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas». Jesus então perguntou-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias». Ordenou-lhes então severamente que não falassem d’Ele a ninguém. Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas. Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O. Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».

 

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

O servo de Deus que oferece a sua vida, sinal de Jesus
A 1ª leitura apresenta o retrato de uma figura enigmática e espantosa chamada «servo de Deus». É uma verdadeira testemunha de Deus, leva uma vida exemplar, mas é perseguido; Depois da sua morte, é que reconhecem nele o porta-voz de Deus e misteriosamente é através dele que a humanidade inteira é salva. Depois de 2000 anos de cristianismo, é natural que pensemos imediatamente que se trata de Jesus Cristo!

Mas o profeta Isaías, com toda a certeza, não pensava em Jesus quando por volta do século VI antes de Cristo, escreveu este texto durante o exílio na Babilónia. Ele dirigia-se aos exilados e dava um sentido ao seu sofrimento lembrando a esta comunidade a sua missão de serva, pois o povo Judeu sabia que tinha a missão de dar a conhecer o projeto de salvação de Deus no mundo. Para isso era preciso permanecer forte no meio de muitas tribulações.

Tudo isto Jesus viveu. E no evangelho de hoje, convida-nos a segui-Lo aconteça o que acontecer: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».

A primeira negação de Pedro
Pedro acaba de dizer a declaração mais extraordinária que se podia dizer, nesta altura, sobre Jesus: «Tu és o Messias.» E ficamos surpreendidos pela reação de Jesus. Não recusa o título, mas pede um rigoroso silêncio sobre o assunto. É que o título era ambíguo e podia ser mal-entendido, como aliás vemos logo a seguir na reação de Pedro. Jesus é realmente o Messias esperado pelo povo Judeu, mas não é o Messias como eles esperam. E Jesus explica-o logo a seguir: “Começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois”. Vemos a profunda ligação com o servo sofredor de Isaías?

Ora para os ouvidos de um Judeu isto era paradoxal e dificilmente aceitável. Eles tinham na memória o que dizia o profeta Daniel acerca do “filho do homem”, uma expressão equivalente a Messias. Vale a pena citar esses versículos: «Vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho do homem. Avançou até ao ancião, diante do qual o conduziram. Foram-lhe dadas soberanias, glória e realeza. Todos os povos, nações e línguas o serviam: O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.” Era um Messias assim, cheio de poder, de glória e de triunfo que eles esperavam. Por isso entendemos a reação de Pedro. Podemos mesmo afirmar que esta é a primeira negação de Pedro, a primeira recusa em seguir um Messias no sofrimento.

Jesus enfrenta esta recusa espontânea de Pedro como uma verdadeira tentação para ele mesmo e di-lo com veemência: Os teus pensamentos não são os de Deus, mas apenas os dos homens.

Os pensamentos de Deus não são os dos homens
Que a nossa maneira de ver as coisas seja humana é o mais natural! Mas precisamos, como discípulos de Jesus, deixar o Espírito transformar a nossa visão e às vezes convertê-la completamente, se queremos ser fiéis ao plano de Deus. Ao contrário de Mateus e Lucas, Marcos não nos narra as tentações de Jesus no deserto, mas não há dúvida que ele nos conta uma dessas tentações neste episódio, e uma particularmente grave e que suscita uma reação muito viva de Jesus, sinal de que deve ter travado aqui um verdadeiro combate: “olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Passa para trás de mim, Satanás», é esta a verdadeira tradução literal. Com o significado de: «Faz-te meu discípulo e deixa-te conduzir por mim, em vez de quereres ser tu a apontar-me o caminho.»

Como o servo sofredor de Isaías, Jesus está decidido a escutar o Seu Pai, a deixar-se instruir por Ele, e a cumprir até ao fim a sua missão, ainda que tenha de sofrer todos os ultrajes e humilhações que vierem. O plano de salvação de Deus não se coaduna com um Messias triunfante: Para que as pessoas cheguem ao conhecimento da verdade, é preciso que descubram o Deus de ternura e de perdão, de misericórdia e compaixão; Isso não se descobrirá em atos de poder, mas no dom supremo da vida do Filho. «Não há maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos (Jo 15,3) E convida a fazerem o mesmo que Ele todos os que O escutam, multidão e discípulos: «Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á». Mesmo alguém que não seja ainda um discípulo de Jesus pode compreender, por experiência, que a vida ganha todo o sentido quando é oferecida. E que se perde no vazio quando se fecha no egoísmo. No fundo este evangelho é um ensinamento sobre o sentido da vida.

Como nos fala este texto à nossa vida concreta? Quantas vezes sofremos a mesma tentação de viver só para nós, de só pensarmos em nós? Quanta dificuldade encontramos quando somos convidados a servir gratuitamente na comunidade, a oferecer-nos para o voluntariado ou a renunciar a algo a que temos direito por causa dos outros?

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