Uma visão de crescimento

Uma visão de crescimento

Em todo o Novo Testamento e particularmente nas parábolas de Jesus, a ideia de crescimento do reino é uma constante: a primeira parábola de domingo passado, a da semente do trigo, acentua a ideia do espanto do agricultor que vê a planta desenvolver-se, passando pelas várias etapas da sua maturação sem ele saber como. Ele sabe que semeou a semente, mas reconhece que o que fez é quase nada diante do mistério daquele desenvolvimento que começa por dar, primeiro, a planta, depois, a espiga e, por fim, o trigo maduro na espiga. O agricultor não nos dá a ideia de ser alguém ansioso e perturbado; pelo contrário, ele dorme descansado, pois levantando-se pela manhã, e olhando a planta, depara-se sempre com a alegria de ver a planta a crescer e a desenvolver-se. Este agricultor parece mais um contemplativo do poder daquela semente que traz consigo uma força misteriosa, uma graça de crescimento.

A segunda parábola, do grão de mostarda, acentua a ideia do crescimento. Começa por sublinhar a pequenez e a modéstia da semente: “Ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra”, para depois mostrar como a pequenez não é nenhum problema e que pode ser mesmo um bem. “Depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra”.

Na Carta aos Efésios, Paulo meditava sobre o mistério da Igreja que formamos e diz que «Em Cristo qualquer construção bem ajustada, cresce para formar um templo santo no Senhor.» E mais à frente diz: «É por Ele que o corpo inteiro, coordenado e unido, por meio de todas as junturas, opera o seu crescimento orgânico segundo a atividade de cada uma das partes, a fim de se edificar na caridade» (Ef 4,16): Quer dizer que o crescimento é de todo o corpo e não só de uma das partes.
S. Lucas diz-nos, nos Atos dos Apóstolos, que «O Senhor aumentava todos os dias os que entravam no caminho da salvação”. E podíamos continuar….

Jesus na sua ação de bom pastor e Mestre tinha uma visão de crescimento do reino a longo prazo. Durante os seus três anos de vida pública como Messias dedicou-se intensamente à formação do grupo dos doze discípulos. Ensinou-lhes tudo o que recebeu do Pai e, depois de ressuscitado, enviou-os por todo o mundo com a força do Espírito Santo, para que também eles fizessem discípulos em toda a parte. O crescimento tornou-se então exponencial e imparável gerando uma nova civilização.

E entre nós? O reino de Deus cresce? Se fossemos a julgar pelo número de pessoas que vêm à missa, diríamos que não, mas além de ainda estarmos em pandemia, esse não é o critério maior para nos darmos conta do crescimento do reino de Deus. Cresce quando alguém experimenta em si a novidade do encontro com Deus que a transforma e lhe dá uma nova vida e uma nova esperança no futuro. A partir desse encontro a pessoa reorganiza-se e reinventa-se para viver ao jeito de Jesus e ao estilo das bem-aventuranças que Ele pregou.

Com o coração agradecido ao semeador, parece-me que, durante este ano que estivemos em pandemia, o reino de Deus cresceu no meio de nós. Temos sido testemunhas de um grande crescimento na fé de muitas pessoas e na sua inserção na Igreja. A pandemia não foi um obstáculo, mas uma oportunidade de lançar a semente do Evangelho em muitos corações através dos percursos Alpha online de adultos e jovens. As células aumentaram muito com pessoas que sentiram vontade de fazer um caminho novo com Cristo e com os irmãos. Foram mais de 50 pessoas novas que decidiram inserir-se nas células, que são pequenos grupos de dimensão familiar que se encontram semanalmente para orarem juntos, partilharem a Palavra de Deus, viverem a dimensão fraterna e servirem os irmãos. Já são mais de 150 pessoas que nas nossas paróquias se reúnem, nas suas casas, uma vez por semana. Mas sonhamos em alcançar as 500, dentro de 3 anos, se for essa a vontade de Deus. Por isso começámos um fórum aberto a todos, online, ontem, segunda-feira, às 21:30.

Há ainda outros irmãos que ingressaram no percurso de S. José que é um caminho de catequese de adultos. Também umas dezenas de irmãos aceitaram servir nas equipas de animação do percurso Alpha onde continuam o seu crescimento na fé e no serviço. Novos irmãos entraram como catequistas e outros sentiram o apelo a servir em equipas de acolhimento aos seus irmãos à entrada da igreja para que tudo fosse feito em segurança. E podíamos continuar a celebrar a graça operante de Deus que faz crescer entre nós o seu reino. O que interessa, em primeiro lugar, é o crescimento na vida da graça ou na santidade, mas se este crescimento interior existir, vai provocando, por atração, o crescimento numérico, a não ser que haja forças exteriores que o impeçam.

A visão que nos orienta e produz paixão em nós, é de crescimento e, em S. José, é descrita com o seguinte enunciado: Paróquia de S. José é uma comunidade que nasce do encontro pessoal com Cristo, cresce pela comunhão com Deus e com os irmãos, forma discípulos que evangelizam com ousadia e servem com amor.

Tudo começa com o encontro pessoal com Cristo que transforma a vida, mas depois vem o crescimento que se opera na união com o Senhor e na construção de relações fraternas, na formação de discípulos que evangelizam e servem.

A Visão de S. João Batista tem outro enunciado, mas baseia-se no mesmo, pois é o mesmo pároco que não pode ter duas visões. Paróquia de S. João Baptista é uma comunidade orante e acolhedora, enraizada em Cristo, que serve e anuncia o evangelho para a transformação do mundo. Estão presentes os mesmos 5 pontos essenciais que operam o crescimento; a evangelização como prioridade intencional, a vida orante e sacramental, a construção de laços fraternos para vivermos como irmãos, o crescimento ou enraizamento na vida de Cristo e o serviço na comunidade e aos pobres.

Que nós continuemos a preparar o campo e a lançar a semente e Ele faça germinar e crescer a planta sem sabermos bem como. Mas estamos-lhe muito gratos pela sua obra.

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