Feliz o povo que o Senhor escolheu para sua herança.
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“EVANGELHO (Mt 28,16-20)
Naquele tempo, os Onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».”
MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS
A forma como a Liturgia nos propõe a celebração dos mistérios da fé revela a pedagogia de uma mãe cheia de sabedoria que nos quer iniciar no conhecimento de Deus e na relação filial com Ele. Durante o tempo do Advento e do Natal, o Pai envia o Seu Filho que se faz em tudo igual a nós exceto no pecado. Durante o tempo de quaresma e Páscoa, seguimos Jesus, o Filho, que passou fazendo o bem, que os homens mataram e o Pai ressuscitou dos mortos. No Pentecostes, corolário do mistério pascal, o Espírito Santo é-nos apresentado e oferecido como Aquele que continua a obra de Cristo na Igreja e no mundo. Chegados aqui, supõe-se estarmos mais bem preparados para saber quem é o nosso Deus e quanto Ele nos ama. A Festa da Santíssima Trindade, resumindo toda a história da salvação, convida-nos a uma vibrante sinfonia de louvor, glória e ação de graças a este Deus uno e trino por tudo o que fez e faz por nós.
A mensagem central que ressalta da festa da Santíssima Trindade é que o nosso Deus não é um Deus longínquo, abstrato, mas um Deus próximo, que vem partilhar as nossas dores e alegrias e nos convida, também a nós, a estarmos atentos às dores e alegrias dos nossos irmãos, comprometendo-nos com eles como Ele se comprometeu connosco, em Cristo, até à morte na cruz.
Um rabino judeu, chamado Elie Jean Marie Setbon, converteu-se há tempos ao catolicismo e fez-se batizar. Escreveu um livro chamado “do Kippa à cruz”. Numa entrevista, fizeram-lhe a seguinte pergunta: Os cristãos têm o mesmo Deus que os judeus ou os Muçulmanos? Ele respondeu: «Sim e não». «Sim» porque há um só Deus e, portanto, só pode ser o mesmo; «não», se confrontamos as imagens que temos de Deus. Para um judeu, é impensável ter relações pessoais com Deus, chamando-O «Pai»; nem se deve sequer dizer o seu nome, por respeito.» Ora Jesus diz-nos: «Quando rezardes dizei: “Pai Nosso”. Para o cristão, é mesmo essencial fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus, no Espírito Santo, e quando isto acontece fazemos a experiência mais admirável que se pode fazer nesta terra: a experiência de sermos filhos de Deus e de sussurrarmos interiormente a relação filial que temos com ele dizendo «Abba, Pai», ao jeito de Jesus, porque é o Espírito de Jesus que nos inunda e «dá testemunho ao nosso espírito que somos, de facto, filhos de Deus».
O facto de Deus ser Trindade de amor, ser relação, ser família, tem implicações profundas para nós, seus discípulos. Sendo criados por um Deus que é relação de pessoas, também em nós existe o apelo à comunhão. «Não é bom que o homem esteja só». Por isso, “aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente” (LG,9). A Igreja só testemunha o mistério de Deus quando, no seu seio, se vivem relações de comunhão e ela se torna sinal e sacramento de unidade para todo o género humano. A encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, é um grande serviço da Igreja ao mundo, pois a sua missão é ser sinal, mas também instrumento da unidade de todos os homens.
Para uma nova evangelização, é fundamental que as paróquias se estruturem para uma maior vivência da comunhão fraterna. O acolhimento a todos os que chegam à porta da igreja e em todos os lugares onde se acolhe, a construção de grupos de dimensão familiar que se reúnem quinzenal ou mensalmente para orar, partilhar a palavra e viver a dimensão fraterna, o serviço em grupo aos pobres, as ações comuns de evangelização, a liturgia participativa – mudará, pouco a pouco, o rosto da igreja vista tantas vezes como uma instituição que oferece serviços religiosos para passar a ser vista e experimentada como uma família espiritual onde todos são entusiasticamente acolhidos e encontram o seu lugar de pertença. Mas, ao mesmo tempo, somos chamados a trabalhar com todos os que não se sentem parte da igreja para com eles construir a unidade e a paz.
Neste dia da Santíssima Trindade celebramos, na Igreja de Coimbra, o dia da Igreja Diocesana, pois a Igreja é a melhor imagem da Santíssima Trindade. O tema deste dia é: Diocese de Coimbra, jovem com os jovens. A Igreja, embora fundada há mais de dois mil anos, é constantemente rejuvenescida pelo Espírito que lhe deu o impulso inicial e que continuamente a impele a deixar-se renovar. Os jovens dão à igreja esse rosto juvenil, sonhador, cheio de esperança no futuro que a provoca continuamente a ir mais além. Por isso uma comunidade cristã, sem jovens, fica empobrecida e corre o risco de deixar de sonhar e se instalar. Que o Plano Pastoral que vai ser dado à Diocese, sobre os jovens, desperte todas as comunidades para uma pastoral que os integre tornando-os corresponsáveis na sua missão evangelizadora.