Testemunhos do confinamento – o Filipe Silva

Testemunhos do confinamento – o Filipe Silva

Nenhum de vós deverá transpor o limiar da porta até de manhã. (Ex. 12, 22)

A experiência do confinamento, sendo avassaladora, não terá sido no nosso caso, certamente muito diferente daquela vivida por muitos dos leitores destas linhas. Mesmo assim, aqui seguem algumas sensações daquele que foi o nosso trimestre.

Pouco depois da passagem de ano, tornou-se claro, na empresa onde trabalho, que estava por dias o encerramento, víamo-lo a cada dia que passava na progressiva diminuição de clientes. Por esse motivo, resolvemos antecipar-nos e fechar, mesmo antes dessa imposição legal. Tudo apontava para meses de encerramento (situação que se veio a confirmar) privados do trabalho, mas nunca de trabalho.

Por um lado, foi preciso continuar a alimentar os animais e, por isso, continuei com muita frequência a ir ao meu local de trabalho. Por outro lado, tinha um menino em casa que pedia e tinha, em boa medida, um professor privado, que poderia acudir a solicitações que este pai nem sabia serem possíveis (mesmo tendo já vivido um outro confinamento).

É curioso como é possível sentir-se um cansaço extremo sendo educador-de-infância-pai, ao mesmo tempo que se pode viver uma extraordinária oportunidade de amor paterno-filial (aqui sofria muitas vezes a mãe, a quem calhava encaixar o confinamento dos homens da casa).

Considerei que seria importante para este tempo a manutenção possível de ritmos e rotinas; desde as do dia a dia que já tínhamos e podíamos continuar, àquelas que, não se podendo manter, podíamos pelo menos disfarçar. As aulas do pré-escolar eram uma oportunidade de, mantendo laços, continuar um ritmo que ajudasse a vivência diária e semanal. Os passeios de bicicleta à porta de casa, ou a pé pelas florestas aqui ao redor, foram um escape familiar, na ausência de zoom’s do recreio do garoto, ou mesmo do café do pai. Ao domingo (ousadia) aventurávamo-nos a ir à missa, a on-line da nossa paróquia, ver caras conhecidas: o padre, o leitor… – maravilhas de hoje que podíamos, pelo menos, transpor o limiar da porta.

Filipe Silva

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