Corria o ano de 2001 e estávamos casados há pouco mais de um ano. A minha mulher, a Marta, estava a estudar e eu estava desesperadamente desempregado. Bem que me esforçava para confiar no Senhor e na sua providência, mas nem sempre conseguia e estava a ficar profundamente deprimido. Queríamos ter filhos, 4, precisávamos de pagar a prestação da casa, e o dinheiro não chegava. Como era, e ainda sou, professor, naquela altura nem a subsídio de desemprego tinha direito. O facto de me ter licenciado em letras, Latim e Grego, só piorava a situação: tinha um canudo que só me abria a porta do ensino e que fechava todas as outras.
Foi neste contexto que um casal amigo me sugeriu que deveria escrever uma carta a São José: não era nem um pedido nem uma novena; era uma carta. Eu percebia muito de cartas: namorei e casei com uma rapariga de outro distrito numa altura em que era muito caro fazer chamadas interurbanas, pelo que nos especializamos no género epistolar. Só não sabia como poderia escrever uma carta a São José…
Andei a matutar naquilo durante algum tempo, fiz vários rascunhos e, ao fim de duas semanas, tinha a carta escrita e assinada. Coloquei-a atrás de um ícone da Sagrada Família que ainda hoje temos na sala e dei o trabalho por concluído.
Muito poucos dias depois, já não consigo precisar quantos mas poucos, veio a resposta. Dessa resposta nasceu a minha competência a nível informático: estava a decorrer uma formação em Lingo – uma linguagem de programação que entretanto já foi descontinuada mas que servia de suporte aos CD’s interativos, na Universidade de Aveiro, e não conseguiam arranjar um formador.
Descobri várias coisas. Para além de todos os atributos que o Papa lhe dá na sua carta, São José também é um pai educado – se alguém lhe escreve ele responde. Sobretudo, aprendi a rezar com São José: não se trata tanto de o acolher como intercessor, ainda que ele seja um dos bons, mas de o aceitar como instrutor. Se pensarmos bem, foi ele quem ensinou Jesus a rezar… (mais tarde Jesus dirá “rezais e não obteis porque rezais mal”).
Escrever uma carta a São José pode então ser assim entrar nesta dinâmica de aprender a rezar a nossa vida com São José, o pai do nosso Deus. Faça-o sem pressas (estipule se quiser uma data, mas pondere bem durante alguns dias o que vai escrever, na medida do possível à luz da Palavra de Deus). Pode sempre marcar uma conversa com um dos nossos padres ou falar com alguém cristão da sua confiança para o(a) ajudar a delinear algumas ideias.
Desde o passado fim de semana que em SJBaptista está, junto ao altar e ao ícone de São José, uma caixinha onde poderá depositar a sua carta. Pode ficar descansado que, para além de São José, ninguém mais a lerá.
Paulo Farinha Silva
2 Comentários
celiaPublicado em1:56 pm - Dez 28, 2022
Muito bonita a mensagem que partilho de sua experiência de vida. Obrigada 🙂
Maria PaulaPublicado em9:09 am - Mar 17, 2023
Amei. Valei-me São José.