Folha Paroquial nº 163 *Ano IV* 14.03.2021 — DOMINGO IV DA QUARESMA

Folha Paroquial nº 163 *Ano IV* 14.03.2021 — DOMINGO IV DA QUARESMA

Se eu me não lembrar de ti, Jerusalém, fique presa a minha língua.

A folha pode ser descarregada aqui.

“EVANGELHO (Jo 3, 14-21)
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más acções odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus.”

MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

BENDITO SEJA DEUS, RICO EM MISERICÓRDIA,
PELA CARIDADE COM QUE NOS AMOU.

O que têm estas 3 leituras em comum para tirarmos delas um fio condutor, uma ideia central?

E eu diria que é a afirmação repetida, a partir da ação de Deus, de que Ele realmente nos ama excessivamente, é de uma misericórdia sem fim e de uma fidelidade inquebrantável. Acerca da forma que Deus usou para se revelar, isto é, para se dar a conhecer, diz a Dei Verbum, do Concílio Vaticano II: «Esta economia da revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras.” Isto é, Deus faz acontecer a história (ações de Deus), e os profetas, inspirados pelo Espírito, interpretam a história (palavras), ajudando o povo a ver a presença de Deus (ações e palavras relacionadas intimamente revelam o rosto de Deus).

Vamos à primeira leitura: trata-se de uma página dramática da história do povo da primeira aliança. O exílio para a Babilónia promovido por Nabucodonosor, rei dos caldeus. Mas, como vemos, o autor não conta só a história, interpreta-a. Começa por dizer: “Todos os príncipes dos sacerdotes e o povo multiplicaram as suas infidelidades, imitando os costumes abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor tinha consagrado para Si em Jerusalém.” Deus avisou-os, enviando-lhes profetas, mas eles não os ouviam e escarneciam deles. Chegou-se a um ponto em que Deus parecia não encontrar outro remédio para acordar o povo da sua infidelidade à aliança, que permitir que ele passasse por uma dura provação e se voltasse de novo para o seu Deus. O povo foi para o exílio durante 70 anos (o número é simbólico, na verdade o exílio durou cerca de 50 anos). Mas, durante estes anos, o povo foi humilhado, reconheceu os seus pecados, e Deus mais uma vez se compadece, pois Ele quer salvar o seu povo. Por isso aparece um novo império, o persa, atual Irão, com Ciro à frente, que invade a Babilónia e reenvia o povo para a sua terra libertando-o do exílio.

Com esta história real o autor do livro das Crónicas afirma três coisas:

1º A desobediência a Deus é causa da infelicidade do povo e Deus tinha-os prevenido quando lhes disse: “Ponho diante de ti a felicidade e a infelicidade, a vida e a morte, escolhe a vida obedecendo aos mandamentos do Senhor, andando nos seus caminhos”(Dt 30,15).

2º Deus continua fielmente a ser o Deus dos Pais Abraão, Isaac e Jacob, seja qual for a infidelidade do seu povo, e fará tudo para o impedir de cair no precipício.

3º Quando, apesar de todas as tentativas de Deus, o povo não O escuta e cai no precipício, Ele encontrará sempre o meio de o fazer sair, pois nada é impossível a Deus.

Podíamos já ficar por aqui, mas falta ainda a forma mais audaciosa que Deus encontrou para nos salvar para sempre, e essa é a novidade do Novo testamento. Todos estes atos salvíficos eram figura do grande mistério salvífico que Deus preparava na plenitude dos tempos em Jesus, pois “Deus amou tanto o mundo que lhe enviou o seu Filho unigénito para que todo aquele que se volte para Ele, com fé e confiança, não pereça, mas tenha a vida eterna.” E Paulo afirma assombrosa e jubilosamente:

“Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à vida com Cristo. É pela graça que fostes salvos.” Nós não tivemos que ir para o exílio por causa dos nossos pecados, mas o Filho foi exilado para longe do Pai e na cruz gritou: «Meu Deus, meu Deus: porque me abandonastes?» Ele assumiu em si as consequências da nossa desobediência e do nosso pecado, Ele sofreu por nós. Mas, “ressuscitado de entre os mortos, com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus”. Quer dizer, fez-nos participantes da Sua glória, da sua vida imortal e da sua glorificação. E que fizemos nós para merecermos tudo isto? Nada, a não ser acolher o dom pela fé. Mas atenção, este acolher o dom pela fé é fundamental. O Evangelho de hoje afirma: “Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus.” A recusa deste dom pela descrença voluntária não permite a salvação. E como se eu fosse ao médico com uma doença mortal e ele me dissesse: “É grave a sua doença e conduzi-lo-á à morte, mas existe um medicamento que o pode salvar, se o tomar” – e é-lhe oferecido gratuitamente. Se a pessoa disser: “Eu recuso esse comprimido” – então o médico não pode fazer nada por mim. Sou eu que me condeno à morte porque recusei a salvação que me era oferecida. E infelizmente há muita gente a recusar a fé voluntariamente. Todas as ideologias ateias, partir do século XIX, e que tanto têm influenciado a nossa cultura ocidental, levando-a a esquecer a Deus e a fechar-Lhe o coração, são algo que deve ferir o coração de Deus, pois anulam o gesto salvífico de Deus que quer salvar todos os homens que se abrem a Ele pela fé. Por isso é tão importante a evangelização! Para que os homens acreditem a Deus e se salvem: “É pela graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de Deus. Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar.” Que maravilha! Não estremeces quando pensas no dom que recebeste? A nossa vida não devia ser uma contínua ação de graças pela sua misericórdia e fidelidade, pelo seu eterno amor? Sim, louvor, ação de graças, que não devem ser apenas uma questão de palavras, mas de vida. Por isso, Paulo continua: “Nós somos obra de Deus, criados em Jesus Cristo, em vista das boas obras que Deus de antemão preparou, como caminho que devemos seguir”. O homem novo, ressuscitado com Cristo, é chamado agora a viver uma vida nova que é como um cântico novo, vindo de um coração novo cheio de ação de graças. Bendito seja Deus, rico em misericórdia pela caridade com que nos amou.

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