O ícone do Baptismo do Senhor

O ícone do Baptismo do Senhor

Desde há cerca de uns 5 anos – mais ou menos – que a igreja de São João Baptista é embelezada com um ícone em grande formato do Baptismo de Jesus (se não me engano, escrito pelas Irmãs de Belém).

Numa das suas viagens, o Pe Jorge viu, gostou e comprou-o. A nossa cultura ocidental não está muito habituada à presença deste tipo de representações do sagrado mais características das Igrejas orientais, embora isso se tenha alterado bastante nos últimos anos.

“Vós todos que fostes batizados no Cristo, revestistes-vos do Cristo. Aleluia” – cantou a Igreja no domingo de Natal, neste da Epifania, e ainda no Sábado de Lázaro, na Páscoa e no Pentecostes. Todos esses eventos – nascimento, batismo, ressurreição e envio do Espírito Santo – são faces do mesmo mistério pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual ele se entrega a Si mesmo e ao seu Espírito Santo “para a vida do mundo”. E foi no nosso batismo que fomos iniciados neste mistério, que morremos e ressuscitamos com Cristo, sendo revestidos dEle, porque Cristo morreu e ressuscitou de uma vez por todas. Tentaremos ler, por isso, o ícone do Batismo de Cristo, para que possamos mergulhar mais no mistério pascal, mistério de cada um de nós.
No centro do ícone, temos Nosso Senhor Jesus Cristo, envolvido completamente pelas águas do Jordão. Segundo o Papa Bento XVI, o Papa da Igreja Católica inteira: “O ícone do Batismo de Jesus mostra a água como um túmulo de água que corre, que tem a forma de uma escura caverna, que por sua vez é o sinal iconográfico do Hades, o reino dos mortos, o inferno. A descida de Jesus a este túmulo de água a correr, a este inferno, que o envolve totalmente, é a pré-realização da descida ao reino dos mortos: ‘Tendo mergulhado na água, prendeu o que era forte'(cf Lc11,22), diz S. Cirilo de Jerusalém. E S. João Crisóstomo escreve: ‘Mergulhar e emergir são a representação da descida ao inferno e da ressurreição’.”

A terra está rasgada em dois, tal como os Céus de onde Deus envia o Espírito Santo. No centro vemos Jesus, despido, como quando foi crucificado, ao mesmo tempo que aceita a vontade de Deus e assume a sua vocação de messias, que se deixa submergir pelas águas de um rio que jorra dos túmulos em terra estéril; João segura na mão esquerda a antiga aliança e inclina-se para aquele de quem não é digno de desatar as sandálias; Jesus submete-se livremente à vontade do Pai de libertar a humanidade do pecado e conduzi-la à vida divina (Aquele sem pecado, aceitou ser batizado. Aquele sem culpa, aceitou ser crucificado!); Jesus submete-se a João “para que se cumpra”, como mais tarde “não se faça a minha vontade”, e o Pai responde, dizendo “Este é o meu Filho bem-amado, sobre o qual ponho todo o meu agrado”, enviando seu Espírito Santo – é isso que indicam o semi-círculo que vemos na parte superior e o raio que desce dele sobre Jesus; as águas, o mar, são sempre símbolo das trevas, do obscuro e tenebroso; a cena remete para o mistério pascal; Jesus, despido do homem velho, ao contrário de João que está ainda vestido (é o homem velho, o Adão, que esconde sua nudez – o Batismo em Cristo é, pois, a passagem deste homem velho ao homem novo, o próprio Jesus), abençoa as águas com ambas as mãos, tornando-as doravante fonte de vida nova. Dessa vida nova beneficia Adão, que deixa esvaziar as suas bilhas de água ainda não renovada e que ainda receoso troca o olhar com um dos anjos, preparado para o acolher. Dos outros 3 anjos, dois têm o olhar fixo em Jesus e o outro na pomba.

Abaixo do Precursor, aparece um arbusto cortado por um machado. Refere-se ao tremendo aviso de João, que é um convite ao batismo e a uma vida santa depois do batismo: “O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo”. A árvore tem já lançado o machado à raiz: doravante, só dará fruto o ramo que vier a ser enxertado em Cristo. Toda a criação sente esta renovação: temos os peixes e os pequenos arbustos junto à margem. É a ponte entre o Antigo e Novo Testamento.

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