Folha Paroquial nº 136 *Ano III* 06.09.2020 — DOMINGO XXIII DO TEMPO COMUM

Folha Paroquial nº 136 *Ano III* 06.09.2020 — DOMINGO XXIII DO TEMPO COMUM

Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.

A folha pode ser descarregada aqui.

“EVANGELHO (Mt 18, 15-20)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu. Digo-vos ainda: Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos Céus. Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles».”

REFLEXÃO

“Hoje, a cultura pós-moderna, desvaloriza o “nós” para sublinhar exclusivamente o “eu”. A comunidade e os interesses de todos são desvalorizados em relação aos interesses pessoais. Esta mudança de perspetiva trouxe alguns aspetos positivos, pois levou ao reconhecimento universal dos direitos de cada pessoa humana, mas, levado ao exagero, pode pôr em causa esses mesmos direitos, já que cada um de nós não é uma ilha, mas só nos realizamos na relação com os outros.

É frequente ouvirmos frases como: «Cuida da tua vida que eu cuido da minha»; e, ainda pior: «cada um que se se arranje». A visão do “cada um por si” é contrária ao Evangelho e contrária também a uma visão humanista da vida. Nós somos chamados a amar, a interessar-nos uns pelos outros e a nunca desistir do nosso irmão, mesmo que ele insista em fazer escolhas de morte. Jesus diz, hoje, na segunda leitura, que a caridade é o pleno cumprimento da lei, pois todos os outros mandamentos conduzem a este: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Às vezes os irmãos, por fragilidade, podem afastar-se do caminho, fazer coisas erradas, com consequências devastadoras para si mesmos e para os que estão à sua volta. E que podemos nós fazer para os ajudar? Hoje, esta tentativa de ajuda é mais difícil de pôr em prática pelo receio que temos de nos estar a meter na liberdade dos outros. Por isso, exige ser uma ajuda muito respeitosa e discernida.

Nos Estados Unidos, na semana passada, numa estação do metro, alguém tentou violar uma rapariga em público e as pessoas que estavam na estação puseram-se a filmar as cenas e a enviá-las para as redes sociais sem nada fazerem. Parece impossível, mas muita gente tornou-se indiferente ao sofrimento dos outros. Felizmente não são todos, pois ainda há muita gente que estremece diante da dor do outro e arregaça as mangas.

Jesus quer que a comunidade dos seus discípulos viva este amor mútuo. A Igreja de Jesus deve ser o lugar onde o mandamento Novo se torna visível e palpável. Na visão pastoral da paróquia de S. João Baptista e na de S. José, este aspeto é mencionado. Na de S. João diz-se: “Somos uma comunidade orante e acolhedora”… e na de S. José diz-se…«Crescemos na comunhão com Deus e com os irmãos…». Numa e noutra, expressa-se que somos chamados a formar uma comunidade que experimente visivelmente que nos interessamos uns pelos outros. Sentem já isso, ou ainda não? Quando cada um sofre, a comunidade deve estar próxima e estar com a pessoa; mas também quando cada um esmorece na fé, desanima, compete aos irmãos mais próximos acompanhá-lo com caridade, incentivá-lo a ser fiel a Deus. Naturalmente, exige-se sempre o respeito pela pessoa ainda que ela faça escolhas que nos façam sofrer, pois sabemos que não são boas. Onde esta ajuda se vive mais facilmente é nos pequenos grupos, pois é aí que se conhece melhor o irmão e se pode ajudá-lo e acompanhá-lo. Além disso, o pequeno grupo é preventivo, isto é, não ajuda só quando o erro já está feito, mas forma para os evitar. Por isso é tão importante que cada cristão tenha um pequeno grupo onde cresça com os outros. É acerca desses pequenos grupos que hoje o evangelho também fala: “Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Na verdade, onde dois ou três estão reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.”

O importante é que estejam reunidos em Seu nome, que escutem o seu chamamento, que vivam identificados com o Seu projeto do Reino de Deus. Que Jesus seja o centro do seu pequeno grupo. Esta presença viva e real de Jesus é a que há de animar, guiar e sustentar as pequenas comunidades dos seus seguidores, os pequenos grupos que se reúnem em seu nome, tal como as células paroquiais de evangelização, o grupo de catequese de adultos, a equipa Alpha, o grupo de oração ou de lectio divina, ou qualquer grupo da paróquia que, mesmo esporadicamente, se reúne por causa dele, para escutar a sua palavra, pô-lo no centro. E quando isso acontece, é Jesus quem alenta a sua oração, as suas celebrações, projetos e atividades. Esta presença é o segredo de toda e qualquer comunidade cristã viva. Cito a seguir o teólogo espanhol José Pagola: “Nós, discípulos do Senhor, não podemos reunir-nos hoje nos nossos grupos e comunidades de qualquer maneira: por costume, por inércia ou para cumprir obrigações religiosas. Podemos ser mais ou menos numerosos; podemos ser só dois ou três, mas o importante é que nos reunamos em seu nome, atraídos pela sua pessoa e pelo seu projeto de construir um mundo mais humano, mais fraterno, mais justo. Temos de reavivar a consciência de que somos comunidade de Jesus. Reunimo-nos para escutar o seu Evangelho, para manter viva a sua memória, para nos deixarmos contagiar pelo seu Espírito, para acolher em nós a sua alegria e a sua paz, para anunciar a Boa Notícia. Já o disse aqui mais que uma vez e repito-o. O futuro da fé cristã dependerá em boa parte de pequenos grupos de cristãos que, situados nas paróquias, as vão renovando pela experiência de comunhão que fazem uns com os outros, porque Jesus está no meio deles.” (De uma homilia do 23º Domingo Comum, Ano A).

Temo-nos encontrado para rezar e pedir por irmãos doentes, por situações difíceis, e temos experimentado que Jesus está de facto no meio de nós? Em S. João Baptista de vez em quando tem-se feito esta experiência e tem ajudado muitos a experimentar que Jesus é real, está vivo, muda a nossa vida, leva-nos a opções e escolhas novas, e escuta as nossas orações, de modo especial as que fazemos em comunidade. Então crescemos na fé e avançamos. Jesus quer ver-nos a caminhar uns com os outros, no amor, construindo uma civilização do amor e não uma sociedade egoísta em que cada um só olha para si mesmo e para os seus interesses. Ele conta connosco para isto.”

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