Folha Paroquial nº 123 *Ano III* 02.05.2020 — DOMINGO IV da PÁSCOA

Folha Paroquial nº 123 *Ano III* 02.05.2020 — DOMINGO IV da PÁSCOA

O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

A folha pode ser descarregada aqui.

“EVANGELHO (Jo 10, 1-10)
Naquele tempo, disse Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que não entra no aprisco das ovelhas pela porta, mas entra por outro lado, é ladrão e salteador. Mas aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe a porta e as ovelhas conhecem a sua voz. Ele chama cada uma delas pelo seu nome e leva-as para fora. Depois de ter feito sair todas as que lhe pertencem, caminha à sua frente; e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. Se for um estranho, não o seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». Jesus apre-sentou-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que queria dizer. Jesus continuou: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. Aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo: é como a ovelha que entra e sai do aprisco e encontra pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância».”

REFLEXÃO
“Fui ordenado há 37 anos, 24 de Abril, no 4º Domingo da Páscoa, domingo do bom pastor. Por isso, a minha história como padre está ligada a este dia.

Deus é o pastor do seu povo, aquele que o conduz às fontes da vida. Mas sempre precisou de pastores visíveis que fossem imagem do único pastor. Por isso, sempre chamou alguns para se entregarem totalmente a esse ministério pastoral. Umas vezes teve mais sucesso com a resposta deles, outras menos. Às vezes penso, em momentos em que sinto mais a minha fraqueza e o meu pecado, se não me terei enganado e que se tudo o que pensei ser o chamamento de Deus não passou de uma ideia minha. Esta dúvida é diabólica, pois deixa-me sempre perturbado. O que me leva a concluir que realmente Deus me chamou, apesar de mim, são dois fatores: Primeiro, foi a experiência inesquecível e indizível que fiz do seu amor eterno que me atravessou a alma. Diz o papa na sua mensagem para este dia: «Toda a vocação nasce daquele olhar amoroso com que o Senhor veio ao nosso encontro(…). Mais do que uma escolha nossa, a vocação é resposta a um chamamento gratuito do Senhor». E eu tenho vivido sempre desse olhar amoroso que, naquele dia 19 de Março de 1977, Ele me lançou. A segunda razão, é que, se não fosse chamado, não teria a graça de, ao longo de tantos anos, me ter sentido sempre bem em ser padre mesmo em tempos mais difíceis. Sempre senti que era aqui que eu quereria estar ainda que às vezes também tivesse desejo de estar noutros lados. Por isso sinto uma eterna gratidão a Deus pela sua graça e misericórdia para comigo. Ajudam-me muito, nos momentos de tribulação, os santos pastores da igreja – que, graças a Deus, não lhe têm faltado em abundância, mas, nestes tempos, precisa muitos mais. O cristianismo hoje é uma escolha pessoal que só funciona por atração. Por isso têm sido tão graves para a Igreja os escândalos de que todos temos tido conhecimento! O mal faz tanto barulho e chega tão longe que, para não deixar desorientadas as ovelhas do bom pastor, precisamos de padres como aquele italiano de 75 anos a quem os paroquianos ofereceram um ventilador para o salvar do coronavírus, mas ele recusou-o para o oferecer a um jovem do hospital onde estava. E o sacerdote morreu entregando a vida por este rapaz. É nestes momentos de tribulação e de combate que se vê a fé transformada em coragem dos que vivem do Senhor. Este santo sacerdote juntou-se a tantos padres que fizeram o mesmo, como Maximiliano Maria Kolbe, hoje santo, que, sendo preso por ser padre, na segunda guerra mundial, ofereceu a sua vida em troca da de um homem casado, pai de filhos, a quem a Gestapo decidiu matar com mais nove outros, por se ter evadido de noite um prisioneiro. Esta é a beleza do amor que salva!

Há mais beleza num gesto destes, do que em todas as obras de arte do mundo!

A verdadeira beleza que atrai é a de uma vida que se dá por amor. Esta beleza trespassa-nos o coração. E deixa-nos compreender o que é ser pastor.

Na primeira leitura de hoje, quando os habitantes de Jerusalém compreenderam através de Pedro o sentido dos sofrimentos de Jesus na cruz como um ato de amor levado até ao extremo, ficaram de coração trespassado. Perceberam por dentro a beleza e a grandeza daquele amor salvador.

Se quando ouvi a história do padre italiano, fiquei verdadeiramente emocionado: compreendo bem que o povo em Jerusalém, ao ter diante de si a imagem da entrega amorosa de Jesus para nos salvar, ficasse de coração trespassado e perguntasse: «E agora que devemos fazer?» Quando o nosso coração é “quebrado” pela beleza do amor, é o momento da graça, o momento em que se pode operar a mudança dentro de nós. Deus quer que façamos a experiência do seu eterno amor para que o nosso coração quebre a sua carapaça e se abra à graça. Para isso ajuda as vidas transformadas dos discípulos do crucificado ressuscitado. Uma pessoa que não é crente pode vir a acreditar, tocado pela beleza do testemunho de um crente. Mas quando o crente é padre, esse testemunho leva diretamente a Cristo e à Igreja pois o padre é imediatamente identificado, para o bem e para o mal, com a instituição que serve. Por isso é tão importante rezarmos pelos padres. Que Deus renove na santidade os padres que já o são, e chame para si jovens com vontade de se darem inteiramente, por amor, ao serviço do seu reino, para que todos tenham a vida e a tenham em abundância.

Aos paroquianos que tenha desiludido com palavras ou atitudes peço humildemente perdão e, parafraseando o papa, «não se esqueçam de rezar por mim».”

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