Festa da Sagrada Família

Festa da Sagrada Família

Ao celebrarmos a festa da Sagrada Família, lembramos, antes de mais, que Deus, fazendo o homem à Sua imagem e semelhança, na união de homem e mulher, quis que a família humana fosse expressão da comunhão de amor da família divina: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. E lembramos também que, na Encarnação, Deus, na pessoa do Filho, quis precisar de uma família humana, a Família de Nazaré, para realizar a obra da salvação da humanidade, anunciada desde a queda de Adão, ao longo de toda a história do povo de Deus, no Antigo Testamento, e consumada plenamente na morte e ressurreição do Verbo Encarnado.

É nessa Família de Nazaré que podemos contemplar o melhor testemunho de amor para as nossas famílias de hoje, porque ele se traduz na dádiva e na entrega: na dádiva do Pai que entrega o Seu Filho Único para a salvação do mundo; na dádiva de Maria que se entrega total e incondicionalmente à vontade do Pai, viabilizando assim o plano divino; na dádiva de José, homem simples e humilde, que se entrega ao cumprimento integral da missão que Deus lhe confia. Trata-se, pois, de uma família exemplar, onde existe verdadeiro amor, mas, sobretudo, de uma família que sabe escutar Deus e seguir com absoluta confiança os caminhos por Ele propostos.

A partir deste quadro, as leituras de hoje fornecem-nos indicações práticas para a construção das nossas famílias, na medida em que elas possam ser espaços de encontro, de escuta, de partilha e de entrega ao serviço mútuo, a exemplo de Cristo “que veio para servir e não para ser servido e dar a vida” (Mt 20, 28), aceitando assim ser testemunhas do “Homem Novo” no espaço familiar e à sua volta.

Na história narrada no Evangelho contemplamos a figura de José, homem atento que escuta e acolhe as indicações de Deus e sabe interpretar a Sua vontade, não se poupando a qualquer esforço e sacrifício para, com sua esposa, cuidar e defender a vida daquele menino.

Pelas exortações de Paulo na segunda leitura, de que o Papa Francisco faz eco no capítulo IV da Exortação Apostólica “Amoris laetitia”, somos levados a compreender o papel que a família cristã é chamada a desempenhar e que todos nós somos convidados a experimentar, no dia a dia, na relação marido e esposa e na relação pais e filhos, como também na família alargada. As nossas famílias hão-de ser espaço de aceitação mútua, no esforço contínuo do ajustamento dinâmico e progressivo entre os seus membros, “suportando-se uns aos outros e perdoando-se mutuamente”; espaço de confiança mútua que radica no compromisso e na fidelidade à união e ao amor-entrega, em que o egoísmo, o ciúme, a inveja e a cedência a apetites ou desejos próprios não têm lugar; espaço de estima mútua, em que todos se esforcem na caridade recíproca e se tratem com “bondade, humildade, mansidão e paciência” e cada membro aceite renunciar ao seu comodismo para se sacrificar pelo outro; espaço de pertença mútua, em que cada um se sinta verdadeiramente acolhido, em sua casa e na sua família; e, finalmente, as nossas famílias hão de ser espaço de oração, de partilha da fé, de encontro, de união com Deus e de comunhão fraterna, onde “habite com abundância a palavra de Cristo”, à luz da qual todos se possam “instruir e aconselhar uns aos outros”, pois a família é sacramento do amor indestrutível e eternamente fiel de Cristo ao seu povo – a Igreja, onde todos “somos chamados a formar um só corpo”.

Sabemos que este modelo de família proposto na Sagrada Escritura, está seriamente ameaçado, pelos contra-valores da sociedade pós-moderna que nos invadem e influenciam, muitas vezes sem darmos conta. Entre eles, o Papa Francisco, destaca o individualismo crescente e exagerado, considerando que ele representa uma séria ameaça à união e coesão familiar, na medida em que “desvirtua os laços familiares e acaba por considerar cada componente da família como uma ilha, fazendo prevalecer a ideia de um sujeito que se constrói segundo os seus próprios desejos assumidos com caráter absoluto” (AL 33). Isto, claro, a par do “ritmo da vida atual, o stresse, a organização social e laboral, porque são fatores culturais que colocam em risco a possibilidade de opções permanentes” (idem).

Não podemos, porém, sucumbir perante tantas ameaças, riscos e desafios que as famílias de hoje enfrentam e peçamos à Sagrada Família de Nazaré que nos acompanhe e ilumine no caminho a seguir, rezando com o Papa:

Oração à Sagrada Família
Jesus, Maria e José,
em Vós contemplamos
o esplendor do verdadeiro amor,
confiantes, a Vós nos consagramos.
Sagrada Família de Nazaré,
tornai também as nossas famílias
lugares de comunhão e cenáculos de oração,
autênticas escolas do Evangelho
e pequenas igrejas domésticas.
Sagrada Família de Nazaré,
que nunca mais haja nas famílias
episódios de violência, de fechamento e divisão;
e quem tiver sido ferido ou escandalizado
seja rapidamente consolado e curado.
Sagrada Família de Nazaré,
fazei que todos nos tornemos conscientes
do carácter sagrado e inviolável da família,
da sua beleza no projeto de Deus.
Jesus, Maria e José,
ouvi-nos e acolhei a nossa súplica.
Ámen.

Diác. Albano

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