Folha Paroquial nº 64 *Ano II* 10.2.2019 — DOMINGO V DO TEMPO COMUM

Folha Paroquial nº 64 *Ano II* 10.2.2019 — DOMINGO V DO TEMPO COMUM

«Na presença dos Anjos, eu Vos louvarei, Senhor.»

A folha pode ser descarregada aqui.

«EVANGELHO (Lc 5, 1-11)
Naquele tempo, estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse
a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para os virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos, de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram Jesus.»

Os pescadores estavam a lavar as redes. No seu coração, não devia haver muito ânimo, pois tinham andado toda a noite a trabalhar… em vão. Não tinham pescado nada. Jesus escolhe a barca de Simão para dali fazer a sua pregação do reino. Quando acabou de falar, tinha uma surpresa para o dono da barca e para os seus amigos da pesca: «Simão, faz-te ao largo. E vós, lançai as redes para a pesca.». A resposta de Simão é lógica e provém da experiência de todos os dias: «Senhor, obrigado por te preocupares connosco, mas não vale a pena… pescámos toda a noite e não apanhámos nada.» Creio que o olhar de Jesus sobre Pedro foi aquele olhar luminoso, profundo e persuasivo que encontramos tantas vezes no Evangelho, ao ponto de Pedro exclamar logo a seguir: «mas, já que o dizes, largarei as redes». Obedecendo à Palavra de Jesus, eles contemplam, atónitos, uma inesperada e abundante pesca. Pedro, por momentos, intui que aquilo só pode acontecer pela presença do divino, do Mistério, e, tal como Isaías na 1ª leitura, sente-se impuro, pobre e pecador e experimenta aquele «santo temor de Deus» que nasce do assombro ante a grandeza divina, diante da nossa pequenez e miséria. Isaías exclama: «Ai de mim, que estou perdido, pois sou um homem de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo.». E Pedro, lançando-se aos pés de Jesus, exclama: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador.». Mas, um e outro, são acolhidos pela benevolência divina que os chama para a missão. A Pedro, Jesus diz: «Não tenhas receio, daqui por diante, serás pescador de homens». A Isaías, Deus pergunta: «Quem enviarei eu? Quem irá por mim?» E a resposta de Isaías é a resposta de alguém totalmente rendido à experiência inefável do encontro com o Deus vivo. É a atitude de adoração. «Eis-me aqui, podeis enviar-me.»
Jesus quer formar Pedro para o anúncio do Reino e ensina-lhe desde o início que a fecundidade da missão e a eficácia do Reino Lhe pertencem a Ele, o Mestre e o Senhor da Missão. Nós somos seus colaboradores e, como tal, devemos trabalhar em união com Ele, e em obediência à Sua Palavra. Entrar em ativismo, desligados dele, é cansar-se inutilmente, é pescar a noite inteira e não apanhar nada. A sabedoria popular pôs em ditado aquilo que é dito de muitas formas na Bíblia: «Vale mais a quem Deus ajuda, do que a quem muito madruga». Diz o Salmo: «Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigiam as sentinelas.» (Salmo 127)
Tudo começa no assombro do encontro com o Mistério. Quando digo Mistério refiro-me a Deus naquilo que Ele é na sua grandeza infinita, na sua santidade, que nós só podemos intuir mas não compreender. Ele está para além de toda a compreensão. E a sua grandeza revela-se também na sua pequenez, humildade e proximidade. É a experiência que Pedro faz depois da pesca. «Como é possível que “o totalmente outro”, esteja tão perto de mim, homem pecador?» «Afasta-te de mim, Senhor». Esta é a experiência que podemos fazer na adoração eucarística quando nos aproximamos daquele pão que é o Corpo entregue de Jesus. A adoração bem vivida como encontro amoroso com o Senhor, fecunda toda a nossa vida e transforma-a. Ainda não consegui perceber como é que há pessoas que se vão cansando de dar ao Senhor uma hora de adoração e vão desistindo. Deveria acontecer o contrário. Se a adoração for uma abertura da alma à presença do fogo devorador do amor de Deus só haveria de nos lançar no desejo de mais adoração, de mais serviço ao Senhor, como Isaías que exclama depois do encontro. «Eis-me aqui, podeis enviar-me.»
Não poderá acontecer que estamos lá mas não abrimos o coração à sua graça? É possível estar diante do fogo e não nos queimarmos? É,se nos protegemos. A adoração não é só para mim, é também um serviço que presto aos outros, a toda a comunidade. Sejamos generosos com Deus e com os irmãos e demo-nos na adoração de uma forma comprometida, uma hora por semana.
O amor de Cristo e a experiência de salvação que fizemos d’Ele, impulsiona-nos para o trabalho esgotante, mas cativante da missão. Não estamos dispensados de dar o nosso melhor, com criatividade e com os critérios da excelência. Quando a pesca não dá, em vez de continuarmos a fazer, rotineiramente, o que já fizemos tantas vezes, vendo que não dá fruto, precisamos de parar, para rezar, para avaliar, para pedir ao dono da messe que nos ilumine, que nos oriente e nos diga para onde lançar as redes. Ele nos inspirará caminhos novos e nos dirá: «Faz-te ao largo e não fiques a pescar na segurança da orla marítima, mas parte na confiança da fé, e eu estarei contigo para encher as tuas redes.» Sexta- feira passada e ontem, sábado, decorreu em Braga o e+novar19, que é um encontro promovido pelo Alpha nacional para bispos, padres e leigos refletirem sobre como liderar a inovação e a mudança para perspetivas novas de anúncio do evangelho. Esta experiência tem ajudado muitos padres e leigos a saírem da rotina do fazer pastoral para entrarem em caminhos inovadores. É muito mais cómodo continuar a fazer aquilo em que nos sentimos seguros do que a ousar o desconhecido.
É esta a eficácia do reino: o Homem, como colaborador da obra de Deus, dando o melhor de si mesmo, mas esperando tudo da graça divina que não se faz esperar onde vê um coração humilde, obediente e corajoso.

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