Jornadas de Formação Permanente – 15 a 17 de Janeiro de 2019

Jornadas de Formação Permanente – 15 a 17 de Janeiro de 2019

A Diocese de Coimbra realizou na semana passada as suas jornadas de formação permanente, com o tema «Acolher e celebrar, lugares de encontro (com Deus e os homens)», no Seminário Maior de Coimbra. Eu estive presente nestas jornadas de formação permanente de Coimbra, pois não se destinam apenas ao clero, religiosos ou agentes pastorais, mas também à participação de todos os leigos.
Esta actividade formativa abordou a temática deste ano pastoral da diocese e trata-se de um aspecto com tanta relevância pastoral hoje numa igreja que quer ser missionária.

Foi uma experiência enriquecedora e muito motivadora.

Na manhã de terça (dia 15), o padre Tiago Neto falou-nos do acolhimento pastoral, da sua problemática (dever de acolher, acolhimento como serviço especifico e deixar-se acolher). A nossa missão não é só acolher, mas também deixarmo-nos acolher (direito universal). Jesus também se fez convidado, hospede, visitante e peregrino, para que também O acolhessem. Jesus vive uma santidade hospitaleira, daí o homem ser chamado a criar condições para se tornar peregrino, pronto para ser acolhido por Deus. Somos então levados a um desafio eclesial, ou seja, ao difícil caminho da hospitalidade. A Igreja deve ser uma casa de hospitalidade, deve ser acolhedora, evangelizadora, de portas, braços e coração aberto para acolher e receber a todos e principalmente quem mais necessita. Uma paróquia acolhedora deve ter contacto com a realidade, respeitar cada pessoa e a sua individualidade, daí a grande prática do acolhimento basear-se no SER, ESTAR E FAZER.
O SER descobrindo a pedagogia de Deus, que se fez hospede e que quer ser acolhido, viver numa dinâmica do acolhimento de Deus na escuta e oração, assumir a vivência cristã da vida e comprometer-se com a missão evangelizadora da igreja no serviço do acolhimento.
O ESTAR é o descobrir a comunidade, viver a fraternidade, assumir atitudes construtivas na nossa relação com os outros e comprometermo-nos com o projecto evangelizador da comunidade. Por fim o FAZER, é descobrir maneiras e pôr em prática o acolhimento, viver em espírito de equipa, mostrar disponibilidade para aprender e assumir diversas competências.
Estamos ao serviço da fé e o acolhimento é gerador da vida… da vida numa paróquia.
De tarde no dia 15, alguns oradores, fizeram a sua reflexão baseada em lugares onde se acolhe: Família (Pe. José Augusto), Hospital (Irmã Inês Vasconcelos), Ensino Superior (Pe. Paulo Simões) e Paróquia (Filomena Cruz), falaram das suas vivências no acolhimento e evangelizadora da fé.

No segundo dia (dia 16), de manhã o Pe. Nuno Santos, mostrou-nos o quanto é importante o encontro, como ponto de partida para algo e a relação com o outro, fundamental para qualquer relacionamento. Nós só existimos na relação com o outro, pois somos seres em relação. A relação é realizada com vários exercícios. No SER-SE com o outro, com a comunidade e o SER-SE ENTRE, entre alguém ou alguma coisa, o eu e o outro encontram-se no crescimento da relação, numa construção recíproca de igual modo.
Existe uma relação quando há um diálogo profundo com o outro, quando nos deixamos maravilhar pelo outro, tentar ouvi-lo, e deixarmo-nos encantar com o seu mistério, pois é no mistério que nos relacionamos com Deus. Por fim conclui-se que só o amor pode dar sentido à relação. O verdadeiro poder é amar. Amar é despirmo-nos das nossas barreiras e entregarmo-nos ao outro. O poder maior é o amor. Deus mostrou-nos que tem o poder mais importante, o amor… o seu amor por nós, por todos os seres e aceita-nos tal como nós somos, seres únicos, pois fomos criados à sua imagem e semelhança.
O verdadeiro encontro no amor, dá-se na escuta, no ser escutado, reconhecido e acompanhado. Jesus ouve cada pessoa, encontra-se com cada um pessoalmente na oração.

À tarde o bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, fez-nos reflectir sobre «A celebração da liturgia como lugar privilegiado do encontro» e «As diversas formas de oração cristã, pessoal e comunitária, como lugares do encontro com Deus», a catequese como alegria de encontro com Jesus. Não há outro mistério entre nós que não seja Jesus, ele manifesta-se entre nós por sinais sensíveis, que realizam a sua santificação na igreja, através dos sacramentos.
Ver o invisível leva-nos a um encontro pessoal através da liturgia, fazemo-lo viver em nós e entre nós. A liturgia mais bonita é a oração que fazemos sempre ao Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, este é o abraço da Santíssima Trindade e o ponto fulcral de tudo. A liturgia é o coração pulsante da igreja, pois só o amor desta transforma, abre os olhos do nosso coração para que este seja convertido. A liturgia é o lugar decisivo para o encontro e para o encanto. O mistério é sempre o mesmo, Jesus Cristo, redescobri-Lo no mistério da liturgia, na oração e nos sacramentos. Porque oramos? Para viver, porque viver é amar, só quem ama vive verdadeiramente e permanece no amor. Conclui-se que a liturgia é um lugar educativo e revelador, uma escola de fé e evangelizadora, uma versão orante da fé, pois não somos nós que rezamos, é Cristo que reza em nós, sendo esta oração um eterno diálogo de amor.

No último dia das jornadas (dia 17), o Prof. Dr. Henrique Vilaça, falou-nos da fragilidade como oportunidade para o encontro com Deus. O homem terá sempre as suas fragilidades, pois nascemos frágeis e dependentes dos outros e do seu amor para viver. Temos doenças, desilusões, etc, mas a morte é a última das nossas fragilidades. Deus é o único que acalma o nosso mar, as nossas tempestades. O livro dos Salmos é um exemplo de todas as fragilidades humanas, desde a revolta à aceitação. A fragilidade do amor, pois quando se ama é se frágil. Amar é entregar-se a alguém é expor-se ao outro, é uma vulnerabilidade absoluta, pois todo o poder está nas suas mãos.
Devemos reconhecer a fragilidade (algo difícil de reconhecer), aceita-la e dar-lhe uma resposta construtiva, pois reconhecer uma fragilidade é uma graça “Dá-me Senhor a conhecer a minha fragilidade”. A aceitação positiva, passa por reconhecer que Deus nos quis assim, seres eternamente frágeis e é assim que quer que caminhemos para Ele. A fragilidade serve para o poder de Deus se manifestar em nós, através das fragilidades Deus pode fazer maravilhas, por isso as fragilidades são um dom, torna-se uma bem-aventurança. A fragilidade expõe-nos ao sofrimento e quando vemos que este é uma bênção, o sofrimento torna-se em algo positivo ao nosso ver. E daqui surge-nos uma pergunta! Pode Deus ser frágil? Sim, Deus revela-se na sua assumida fragilidade. Deus é omnipotente que até pode ser débil. A sua omnipotência é o amor, é algo que se oferece e não se impõe. A sua omnipotência é tal que se entrega pelo seu amor. Deus quer entrar no Mundo, que é seu através dos Homens e das suas fragilidades. Deus padece com o sofrimento dos homens, pois só um Deus que sofre é que nos pode ajudar. Deus não pode impedir o mal, mas entrega-se nas mãos dos homens para o enfrentar. A imagem de Deus na cruz é o amor e entrega total deste ao homem. O encontro no amor de Deus é um reencontro, pois Ele estava sempre lá, de braços abertos para nos receber. Deus bate-nos à porta e aguarda, nunca desiste. Bate e aguarda até que nós abramos a porta e o deixemos entrar. Ele dá-nos sempre a oportunidade para o acolhermos, e aí sim, vivemos a experiência do encontro, de nos sentir-mos amados. O Prof. Vilaça terminou salientando que é preciso ter repetidos encontros com Deus, pois a nossa fé é de curto prazo, e é necessário irmos alimentando-a através do encontro com Ele, na Igreja, na Sagrada Escritura e na Eucaristia.
O arquiteto João Alves Cunha abordou a temática do «espaço litúrgico como sacramento do encontro», na parte da tarde. Este começou por nos focar numa frase: “olhar no rosto dos outros é um repouso”. Amar a Deus, o próximo (como a ti mesmo), é como uma estrada de encontro a Deus. Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais nos aproximamos uns dos outros e vise-versa. A maior alegria para o Pai é ver que os seus filhos se reconhecem como irmãos. Por fim conclui-se que a fraternidade universal ensaia-se à volta da mesa, esta é um lugar de encontro e fraternidade para os discípulos de Cristo. A fé, o amor ao próximo necessita de ser fortificada e que os fieis participem nela de forma activa e frutuosamente.
O altar (mesa de encontro de Deus com os seus discípulos) numa igreja deve ser no centro, no coração do edifício.
Por fim o Senhor bispo D. Virgílio encerrou a Jornadas salientando que o “acolhimento, não só como conjunto de ações” mas “como modo de ser da Igreja”. É a relação humana que se pode transformar numa relação mais profunda, mais séria, mais espiritual. O Acolhimento pode ser e deve ser o primeiro passo para despertar um conjunto de sentimentos, de atitudes, de perguntas.
Celebrar e acolher e a celebração como lugar de acolhimento, mas também os outros lugares de acolhimento para que a Igreja seja uma instituição ativa, dinâmica, animada pelo Espírito.

Margarida Gomes

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