«Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco»
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«Naquele tempo, João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós. Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga. E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, onde o verme não morre e o fogo nunca se apaga».»
A crise do pastor Moisés
Situemos este texto. O povo já está farto do Maná que é uma comida monótona e sente saudades das cebolas do Egipto: É daqui que vem o desânimo de Moisés; quando viu o povo pobre e mal agradecido, com boca de fidalgo, é tentado a deixar cair tudo por terra. E desejou morrer. «Moisés ouviu o povo que chorava, agrupado por clãs, cada um à entrada da sua tenda. O Senhor inflamou-se de uma cólera ardente e Moisés desorientou-se. …Porque colocas sobre mim o fardo de todo este povo? Fui eu que concebi todo este povo? Fui eu que o trouxe ao mundo? Queres que eu leve este povo no meu coração, como uma mãe leva ao colo o seu bébé? Onde encontrarei eu carne para toda esta gente? Já não posso mais, sozinho, conduzir todo este povo, é demasiado pesado para mim….dá-me antes a morte…(Núm 11,10-15)
E a resposta de Deus a Moisés é dupla: por um lado manda-o escolher uma lista de 70 colaboradores, para ser ajudado com um senado e, por outro, promete-lhe carne para todo o povo. Depois da escolha dos 70 homens, Moisés condu-los à tenda onde estava a arca da Aliança e aí Deus transmite a estes homens o Espírito que estava n’Ele, isto é, a graça de governo, associado a Moisés. O governo pastoral não é só uma questão de competências humanas, que também são precisas, e por isso Deus dá orientações a Moisés sobre quem ele deve escolher; mas é, em primeiro lugar, um deixar-se habitar pelo Espírito de Deus, aprender a depender d’Ele e a obedecer-Lhe. Hoje há leigos na Igreja que têm competências em várias matérias muito superiores às do pastor, seja ele padre ou bispo. Por isso, estes devem pedir a sua ajuda e aprender na humildade a escutá-los e a confiar-lhes responsabilidades na Igreja, sem que isso diminua o seu papel de ministro ordenado. Dá-me grande alegria nas reuniões do Conselho Pastoral Diocesano, órgão que aconselha o bispo a nível pastoral, ver a riqueza de um laicado competente e cheio de amor à Igreja que discute serenamente os temas levados à discussão e dão ao bispo a sua opinião avalizada sobre as questões. O mesmo se passa em muitos conselhos pastorais paroquiais como é o caso do de S. José que esteve reunido todo o sábado passado a debater o plano pastoral da paróquia e o de S. João Baptista que reuniu há um mês atrás.
Cientes desta riqueza dos membros do povo de Deus e sabendo que muitos sacerdotes estão esgotados, como Moisés, é pena não serem mais aproveitados para a liderança partilhada nas paróquias. Por isso a 5 e 6 de Outubro nas Jornadas de Pastoral, foram convidados muitos leigos para aprofundarem a sua forma de exercer melhor a liderança partilhada. Não está em causa substituir o Moisés (o padre) que é o ministro ordenado, mas juntos, em comunhão, cada um segundo o seu carisma, realizarem a Missão para bem do povo de Deus. Mas há um lado humano que o líder que delega responsabilidades tem de aceitar humildemente: deixar de controlar tudo. E esse é o problema que Moisés e Jesus aceitaram com facilidade, pois não queriam controlar tudo, mas que Josué e João no evangelho quiseram bloquear. Josué diz a Moisés: «Moisés, proíbe-o.» Mas este, ao contrário, continua fiel aos 70 que escolheu. Ele sabia bem que aceitando rodear-se de 70 co-responsáveis com ele, escolhia deixar de controlar tudo e alegra-se com isso dando uma resposta admirável: estás com ciúmes por minha causa? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e todos fossem cheios do Espírito. Um desejo que fica a aguardar até ao Pentecostes. Hoje já não é só alguns que recebem o Espírito para certas missões e em ocasiões especiais. Deus deseja que todo o povo do Senhor viva sempre cheio do Espírito Santo.
Feliz a comunidade onde pastores e povo vivem habitados pelo Espírito e isso se vê pelos seus frutos: alegria, comunhão, caridade, serviço, evangelização, paz .
Peçamos a Deus para que as nossas comunidades paroquiais sejam cheias do Espírito Santo abertas aos diversos carismas que este distribui para crescimento da Igreja.