Folha Paroquial nº 43 *Ano I* 16.09.2018 — DOMINGO XXIV

Folha Paroquial nº 43 *Ano I* 16.09.2018 — DOMINGO XXIV

“Caminharei na terra dos vivos, na presença do Senhor.”

A folha pode ser descarregada aqui.

«Naquele tempo, Jesus partiu com os seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe. No caminho, fez-lhes esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas». Jesus então perguntou-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias». Ordenou-lhes então severamente que não falassem d’Ele a ninguém. Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas. Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O. Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».»

Hoje as leituras e, de modo especial o evangelho, apontam-nos o caminho de fé do discípulo, que é progressivo e fruto de uma relação para levar ao conhecimento de Jesus que não é intelectual mas relacional. Só conhecemos bem aqueles que amamos. Estamos no meio do evangelho de Marcos. Este evangelista construiu o seu evangelho à volta da descoberta progressiva da identidade de Jesus. Começa por dizer que Ele é o Filho de Deus, a meio coloca a afirmação de Pedro escutada hoje: “Tu és o Messias” e termina com a afirmação do centurião junto à cruz; «Este homem era realmente o filho de Deus. A resposta de Pedro sobre a identidade de Jesus parece corretíssima mas, mais à frente, vemos que afinal Pedro tem ainda um longo caminho a percorrer até que a expressão: “Tu és o Messias “ tivesse o mesmo significado que tinha para Jesus. Para Pedro, “O Messias” era Aquele que vinha com a força e o poder de Deus libertar o povo de Israel dos seus dominadores, os romanos, e fazer da sua nação a primeira entre todos os povos. Ele estava a segui-lo para ter um lugar ao sol ao pé do «Rei de Israel». Mas Jesus sabe que não é Aquele Messias esperado por Pedro e por isso “começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas.” Isso para Pedro é inconcebível e tenta meter na cabeça de Jesus «bom senso». Chama-o de parte para o contestar. Mas Jesus tem uma expressão firme que na nossa tradução em português perde muito: No original grego Jesus diz a Pedro: «Passa para trás de mim, Satanás porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». “Passa para trás de mim”, quer dizer: «Faz-te meu discípulo, deixa que seja eu a indicar-te o caminho de como ser Messias-Salvador, da forma como o Pai o pensou. Não sejas o continuador da voz de Satanás no deserto. Os teus pensamentos não são segundo Deus e o seu Espírito, mas segundo os homens inclinados a seguir os seus instintos mais fáceis. No pensamento dos homens a vida é boa quando se tem poder, prestígio, dinheiro, honra, reconhecimento social: Eu porém digo-vos: Se alguém quiser seguir-Me dando plenitude à sua vida, seja capaz de a dar, pois aquele que a dá, recebe-a com um sentido novo, experimentará a salvação no âmago da sua própria vida, mas quem teimar em fechar-se na sua vidinha confortável, egoísta, superficial, esse perde-a. Pedro vai aprender a andar nos passos de Jesus, mas vai levar tempo. Depois das lágrimas da sua negação por três vezes, e depois de Jesus ter ressuscitado dos mortos, Jesus vai-lhe perguntar junto ao lago de Tiberíades, (onde está hoje a igreja do primado, lembram-se?). Pedro, tu amas-me? E o pobre do Pedro nem é capaz de responder com o mesmo verbo, mas responde: “Senhor tu sabes que eu sou deveras teu amigo.” Ele agora já sabe que o seu amor é pobre e fraco, mas verdadeiro e sincero; está pronto para ser pastor das ovelhas porque aprendeu a ser discípulo. Está pronto para dar tudo pelo Mestre que o salvou e n’Ele confiou. Que grande caminho de discípulo ele fez! Um caminho lento e progressivo, como o de todo o discípulo. No princípio é feito de entusiasmo exterior, de sentimentos e emoções ainda superficiais que podem desaparecer com as primeiras dificuldades, mas é passando pela tentação, pelo sofrimento aceite e entregue por amor, que a fé do discípulo vai amadurecendo, tornando-se mais profunda, mais verdadeira, mais iluminadora, capaz de ir até à dádiva da própria vida. Pedro vai ir até ao fim, dando a sua vida à imagem do Mestre. As lutas e as tentações de Pedro, e até as suas quedas, ajudam-nos a perceber o caminho do discípulo rumo à maturidade da fé, cuja meta é a estatura de Cristo na sua plenitude.

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