A Folha Paroquial da Unidade Pastoral pode ser descarregada aqui
Para quem vê a vida cristã pelo lado de fora, sem sentido de pertença, ainda que porventura batizados, o cristianismo dá-lhes a impressão de ser um complexo de obrigações e leis a cumprir. Foi contra esta visão que Jesus lutou no seu tempo. Os judeus, sim, tinham um emaranhado complexo de 613 leis dispersos pelos 5 primeiros livros chamados a Torah, ou a Lei, e que nós hoje chamamos o Pentateuco. Daí a pergunta do Doutor da Lei que é enviado pelos fariseus para o experimentar. O texto diz que os fariseus souberam que, numa discussão com os saduceus, Jesus os tinha deixado sem argumentos, sem saberem o que retorquir. Então os fariseus, talvez pensando que seriam mais espertos que os saduceus, reúnem-se e combinam entre si qual a melhor pergunta a colocar a Jesus, pois estavam convencidos da superioridade da sua doutrina. Escolheram um dos mais doutos entre eles, para o diálogo com Jesus: Um mestre na lei. E a pergunta que este lhe faz tem sentido. No emaranhado das nossas 613 mandamentos em que nos perdemos, qual será o maior, aquele que, se for cumprido, poderá resumir todos os outros? E a resposta não se fez esperar. Para responder, Jesus não se baseia em ensinamentos de grandes mestres do Seu tempo, por melhores que fossem. Ele vai buscar a resposta à fonte, ao texto bíblico, e dá-a em dois momentos. No 1º momento, cita o livro do Levítico e centra o mandamento no amor em Deus: «‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. E acrescenta: «Este é o maior e o primeiro mandamento». Parecia estar tudo dito e o Mestre da Lei preparado para ir embora. Mas Jesus faz uma pausa e acrescenta: «O segundo, porém, é semelhante a este: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». O amor de Deus e do próximo tornaram-se inseparáveis, e para sempre. Um não pode aparecer nem crescer sem que a seu lado surja e cresça também o outro.
Voltando à frase com que comecei, se muitas pessoas têm uma ideia demasiado rígida do cristianismo, vendo-o apenas como um conjunto de normas e leis obrigatórias, é porque talvez a Igreja não tivesse sabido apresentar o principal e o mais belo da vida cristã que é o amor. O amor é tudo no cristianismo, porque Deus é amor. O decisivo na nossa vida, aquilo que a salva e faz dela uma vida em plenitude, é a experiência do amor de Deus e o resplandecimento desse mesmo amor nas nossas vidas, respondendo com ele a Deus e aos irmãos. O Papa Bento XVI Introduz a encíclica Deus é Amor com estas palavras: «Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele» (1 Jo 4, 16). Estas palavras da I Carta de João exprimem, com singular clareza, o centro da fé cristã; além disso, no mesmo versículo, João oferece-nos, por assim dizer, uma fórmula sintética da existência cristã: «Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem».
Para o cristão, o amor, mais do que um mandamento é, em primeiro lugar, uma experiência de vida; nós sabemos e acreditamos no amor que Deus nos tem, porque o experimentamos. Esta experiência é o fundamental do ser cristão. Este encontro com o Deus que nos ama muda tudo e está no início do ser cristão. Toda a conversão é fruto da descoberta de que Deus nos ama.
Ao falar do amor a Deus, Jesus não está a pensar em sentimentos ou emoções que podem brotar do nosso coração. Amar ao Senhor com todo o coração é reconhecer Deus como Fonte última da nossa existência e mostrar esse amor no rosto visível e encarnado dos irmãos.
Deus, incarnando na história e tendo-se feito homem, não deixa que o nosso amor fique nas nuvens ou no etéreo. «Nós amamos a Deus se amamos os irmãos». E “quem diz que ama a Deus que não vê e não ama os irmãos que vê, é mentiroso e a verdade não está n’Ele.” O cristão que ama, ama a partir de Deus e do amor que d’Ele recebe, pois «o amor de Deus foi derramado no nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado».
Jesus, na última Ceia, deixa-nos o mandamento novo. O que tinha de novo é o «como eu vos amei» Olhando para a forma como Jesus nos amou, fazendo-se servo, humilde, perdoando até morrer por nós, temos o modelo do verdadeiro amor.
Jesus quer que a sua Igreja seja uma comunidade que viva o seu mandamento novo e que mostre ao mundo que o amor é possível apesar da fraqueza e do pecado dos seus discípulos.
Por isso, a paróquia deve ser uma comunidade de serviço no amor fraterno. Os grupos que a compõem devem amar-se, interessar-se uns pelos outros e não viverem de costas voltadas uns para os outros.
Os Atos dos Apóstolos dizem-nos que os cristãos eram assíduos à comunhão fraterna e viviam unidos.
No dia 8 de novembro, convido todos os grupos e movimentos de S. José para as 21H00, na hora de Adoração, para rezarmos juntos e para uma pequena reflexão e partilha sobre a comunhão na diversidade. Um encontro semelhante terá lugar, de dois em dois meses, à quarta-feira, a começar a 15 de Novembro, na paróquia de S. João Baptista, para os diferentes grupos desta comunidade. O mandamento do amor deve começar a ser vivido pelos que estão na animação e liderança da comunidade e vai-se alargando a todos. O amor deve começar nos irmãos e estender-se para fora. Se não praticamos a caridade em casa, é difícil depois acreditarem em nós. Jesus disse. «É por este sinal que todos reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros». Se não há, entre nós, sinais e gestos de caridade e comunhão fraterna, quem vai acreditar na nossa palavra?
A beleza da Igreja está na experiência que faz do amor de Deus. «Nós conhecemos e acreditamos no amor que Deus nos tem», e na resposta a esse amor manifestado na caridade para com os irmãos. Que a nossa comunidade resplandeça o amor de Deus no amor dos irmãos a começar pelos mais comprometidos.
Oração
Pai bondoso e cheio de amor para com todos
Cujo amor nunca se cansa nem se esgota.
É bom saborear a tua bondade infinita e contemplar, com admiração,
Todas as coisas que criaste por amor.
Pai Santo, és a defesa mais segura dos pobres e dos humildes,
Concede-nos um coração livre de todos os ídolos,
Para Vos servirmos unicamente a Vós e aos irmãos
Segundo o Espírito do Teu Filho
Fazendo do Seu mandamento Novo a única lei da vida.
Que a Igreja do Teu Filho, que tanto amas, saiba resplandecer
O amor, como sinal de que somos Seus discípulos. Amen.